Crítica | Superman: Entre a Foice e o Martelo

No dia 17 de Março foi lançada no Brasil a animação Superman: Entre a Foice e o Martelo. E como a HQ na qual ela se baseia é excelente e as animações da DC costumam ter um ótimo nível, a expectativa era alta.

De fato, no geral, o longa manteve ambos os níveis, da história original e das outras animações da casa. Porém, as muitas mudanças na história e especialmente o final, uma das coisas mais legais da HQ, acabaram tornando a animação um tanto desapontante.

Pra quem não conhece nada sobre a história, como o nome sugere (desde que você conheça um pouquinho de história geral), aqui o Superman é mostrado através de um ponto de vista bem diferente.

O que aconteceria se ao invés de Pequenópolis (Smallville), a nave carregando o pequeno Kal-El tivesse caído na União Soviética? Essa é ideia.

É claro que com um ser absolutamente poderoso tendo sido criado sob os ideais e o regime do socialismo, daria uma vantagem muito interessante para os soviéticos. E o que acontece é que todo o rumo da história muda completamente em relação a como a conhecemos.

Tanto no mundo como na vida de personagens que conhecemos (reais e fictícios). Por exemplo, Lex Luthor acaba se tornando presidente dos EUA (ok, isso também acontece no mundo como o conhecemos), mas ele é casado com Lois Lane e Batman é um vigilante com um aspecto mais terrorista, contra o regime político do país.

Acontece que as diferenças entre quadrinho e animação se tornam importantes quando acabam mudando ainda mais o curso dessa história…

Um grande exemplo disso, é que nos quadrinhos, Superman e Stalin têm um relacionamento relativamente bom e o líder soviético. Stalin é envenenado por seu guarda-costas, que pensava que iria herdar o trono, porém é Superman que acaba se tornando o líder do governo.

Isso é muito diferente no filme, já que Superman e Stalin enfrentam conflitos sobre campos de escravos. Lois Lane, através da pesquisa de Lex, fornece evidências ao Super-Homem depois que ele para um satélite russo caído na América, levando-o a brigar com Stalin depois de encontrar os campos.

Até aí, seria uma adaptação muito interessante e coerente, uma ideia que tornaria a animação original para quem já conhecesse a história mas que a levaria a um rumo parecido através de outros meios. O problema começa quando Superman, com raiva de Stalin por conta dos gulags, incinera o governante em um golpe e assume o comando para ajudar o povo da URSS.

Apesar de fazer sentido aparente dadas as circunstâncias, isso distancia demais o super-herói que conhecemos e aprendemos a amar dessa versão soviética. E indiretamente (ou não) dá a ele um aspecto vilanesco demais, mesmo que em certo momento ele precisasse de algo forte para perceber que estava errado.

E há muito mais: a participação de Lana é maior e um tanto diferente, a criação do ‘Superiorman’ se dá de forma diferente, a resolução da relação entre Superman e Mulher-Maravilha também muda e o Batman é muito mais sanguinário, e também cruza linhas que o ‘oficial’ jamais cruzaria.

Mas a mudança mais triste, na minha opinião, é o final da história. A obra original mostra um plot twist paradoxal de dar nó na cabeça (exatamente do jeito que eu gosto!). Além da resolução da história em si ser bem mais bonita.

No final dado à animação, a resolução da trama até tem uma certa poesia, mas nem de longe passa a emoção que a HQ consegue. Talvez essa escolha tenha sido porque a original era complexa demais para espectadores acostumados apenas com as histórias mais lineares, padronizadas, com final claro comumente vistos em animações. Uma subestimação ao intelecto do espectador, eu diria. Mas compreensível.

Contudo, só porque não haveria um final complexo não precisava ser um final simplório e chato. E quem me conhece sabe que não sou de falar mal de filmes, séries, quadrinhos ou games… É até curioso que muita coisa que praticamente todo mundo detesta, eu curto (oi BvS!).

Meu argumento quando dizem que não gostaram do final de um filme ou série, quase sempre é que o que vale é a jornada, não o destino. Eu gosto de aproveitar o durante, não assisto a nada para ver o final, e sim, para curtir a história. E não consegui isso 100% em Superman Red Son (nome original).

Ainda acho a animação boa, quem nunca leu e/ou não lerá a HQ pode até ter uma experiência muito boa. Ela é interessante. Desconstruir um ícone como o Superman e um dos grandes marcos da história mundial recente, é realmente desafiador e divertido de se assistir. Mas pra quem conhece a obra original, sabe que bastava transportar tudo que tava lá que ficaria lindo.

E não é como Batman – A Piada Mortal, que colocaram cenas extras que não havia na obra original e que apesar de macular a personalidade dos personagens envolvidos, não muda em nada a história, que dali por diante é bem fiel à HQ e tão boa quanto. Aqui, mudaram muito. E não entendo essas escolhes de direção.

Enfim, me decepcionei. Não tiro o mérito da obra, ela tem seu valor. Diverte e entretém. Mas poderia e deveria ter sido melhor.

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