Conheci Watchmen através do filme maravilhoso de Zack Snyder lançado em 2009. Me lembro que fiquei muito impactado, achei excelente. E a crítica estava ao meu lado.
Snyder já havia sido alçado ao status de grande diretor após o sucesso estrondoso em 300, e seu primeiro grande filme, que também é muito aclamado até hoje, Madrugada dos Mortos.
Nesse filme com mais de 3 horas de duração (e ainda tem uma versão estendida!!), segundo a crítica, o diretor conseguiu levar ao cinema a grande ideia que Alan Moore desenvolveu com maestria singular nos quadrinhos. E isso é admirável.
Nunca uma obra cinematográfica baseada em histórias em quadrinhos havia conseguido ser tão fiel. E a tarefa não era nada fácil. Afinal, o filme havia sido lançado um ano depois do filme que é considerado um marco nesse gênero, que é O Cavaleiro das Trevas.

Watchmen é uma história que desconstrói os super-heróis. Mas faz isso dentro de um contexto histórico que faz toda a diferença na história, sendo praticamente um personagem (eu diria até protagonista), que é a Guerra Fria.
Além disso tudo, é bem violento. Então, vir à tona em um momento onde o (então sub-gênero) filme de super-herói estava atravessando uma fase mais realista e pé no chão, com menos cores e mais escuridão, era um desafio enorme.
E conseguiu. Como já disse, a crítica elogiou muito o trabalho de Zack Snyder e o filme o consolidou na prateleira de grandes diretores de sua geração. Com três grandes produções, já era possível traçar um gráfico mostrando sua acensão.
Contudo, o filme de Watchmen tem dois problemas: apesar de ser largamente elogiado pela crítica especializada, não caiu tanto no gosto do público e teve uma bilheteria considerada baixa, especialmente considerando seu orçamento alto. E o segundo problema, é o seu final.
Se não fosse pela sequência final, pode-se dizer que a adaptação seria perfeita. A escolha para o o fechamento da trama mirabolante foi infeliz. E aqui cabe uma observação: não sei dizer se foi de Zack Snyder como diretor, do roteirista, da produção… Enfim, não importa. Quem quer que tenha tomado a decisão de mudar o final e não utilizar fielmente o que foi apresentado na HQ, fez uma escolha ruim.
Acredito que a ideia era tentar deixar tudo mais coerente, afinal, o final original era um tanto fantasioso demais comparado com o restante da trama que tinha uma ideia mais pé no chão. Mas se você observa com atenção, faz sentido sim. Mas lembre-se, o filme tinha Cavaleiro das Trevas e Batman Begins como sombra. Então não dava pra ser ‘viajado demais’, precisava ser algo minimamente mais ‘crível’.
De toda forma, o filme de Watchmen é hoje, mais de 10 anos após seu lançamento, um cult. Desses que não fazem tanto sucesso (especialmente de bilheteria) na época em que são lançados, mas anos depois viram queridinhos do público.

E então, em 2019, 10 anos após o lançamento do filme e cerca de 33 anos após o lançamento da HQ, a HBO lança uma série que seria uma espeécie de continuação da história. Porém, ela ignoraria o final ‘alternativo’ que o filme deu à adaptação e se basearia exclusivamente na HQ.
Como bom geek que sou, tenho quase um TOC que exige que eu conheça bem uma obra original que será adaptada para conhecer a essa segunda com maior base para referências. Então lá fui eu ler a HQ que eu tinha aqui na estante esperando para ser lida.
Como não tenho HBO e a HQ não é lá muito fácil de ser ler/entender (especialmente a minha que é em inglês), acabei demorando um tempo considerável para terminar a história do quadrinho e começar a série. Mas tudo valeu muito a pena.
O quadrinho dispensa muitos comentários. Eu só queria deixar frisado a minha opinião de que essa história poderia ser usado por professores de história/geografia que falassem sobre a Guerra Fria. Ela é uma dessas obras de ficção que trata de conextos históricos com tamanha importância e detalhamento, que merecem ser estudadas e são ótima oportunidade para aqueles que precisam ou gostam de conhecer um assunto e preferem fazê-lo de forma mais lúdica, visual.
Sendo assim, passemos para a série. Foram apenas 9 episódios produzidos e escritos por Damon Lindelof (sim, o co-criador e produtor executivo de Lost). E apesar de toda desconfiança em cima dela desde quando foi anunciada, a série surpreendeu positivamente e virou um grande sucesso de audiência e crítica.
A minha experiência pessoal com a série foi interessante. Como disse, havia acabado de ler a HQ, então estava com a história bem fresca na memória. Acontece que até mais ou menos o terceiro ou quarto episódio, eu não estava entendendo nada! E olha que me fazer ficar sem entender nada por tanto tempo em uma obra audiovisual, não é uma tarefa muito fácil.
Eu me acostumei com filmes e séries com plots chamados mind-blowing, desses que explodem sua cabeça, te confundindo e que você fica sem ter certeza se entendeu ou certo de que não. Tipo o filme Donnie Darko ou a série Dark. Eu gosto muito e sempre procuro obras assim pra acompanhar. E mesmo assim, Watchmen estava me bugando.
Mas aí, quando chega mais ou menos no episódio 5, ela se conecta de fato com a obra original e passa a ficar tudo mais claro, mudando completamente a nossa percepção e interesse, além de desenrolar um plot maravilhosamente escrito, totalmente coerente, atual e impactante.
A história vai de interessante a espetacular. O que havia começado como um drama político/policial/de ação, ganha ares sci-fi e fantasia em altos níveis. Tudo isso respeitando a obra original, e trazendo uma abordagem atual, com temas atuais que (infelizmente) estão intrinsecamente ligados aos originais dos anos 80 e de muito antes disso.
Tudo na produção está impecável. O roteiro, os efeitos especiais (que por vezes parecem toscos, mas que estão em perfeita harmonia com a ‘realidade’ que a série tenta transmitir), todo design de produção, tornando tudo aquilo ali muito convincente, e sobretudo, as atuações. Destaque para Jeremy Irons que está simplesmente perfeito.
No final, assim como na HQ, fica aquela sensação de quando alguém vence mas parece que todo mundo perdeu, sabe? Damon Lindelof não só cumpriu bem sua difícil tarefa, como conseguiu elevar ainda mais o patamar dessa obra. Imagino que até mesmo o próprio Alan Moore, que sempre critica muito as adaptações de suas obras (quase um Stephen King) deve dar o braço a torcer para a qualidade da série.

Assim sendo, fica aqui minha recomendação para os três formatos que compõem essa obra. HQ, filme e série são altamente recomendados. Sim, até mesmo o filme, que em teoria é simplesmente a mesma história da HQ, contada em outra mídia e com um final piorado. Afinal, é uma experiência diferente ler e ver um filme. E a estética de Zack Snyder merece sempre ser apreciada.
Além do mais, Watchmen parecer nunca ser demais. (Mas não precisa de mais adaptações, já temos tudo que precisávamos…)
Assisti ao filme e realmente foi muito bom! Parabéns pelo post!
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Obrigado! O filme é muito bom mesmo, a HQ é uma obra prima do gênero, e como vejo que seu blog foca em leitura, sugiro que você leia (caso nunca tinha lido). Mas nada supera a série que é ainda melhor, talvez por ser mais atual acho que atingiu mais forte.
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Nossa fiquei super curiosa. Vou ler o HQ primeiro e depois a série!!! Obrigada pelas dicas1
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Concordamos plenamente! E a série é ainda melhor! Parabéns pela review! 👏👏
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Obrigado pelo feedback.
Sim, eu fiquei impressionado em como a série conseguiu não apenas manter o nível, como levar a obra a outro patamar.
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[…] falei aqui sobre como a série Watchmen me surpreendeu e além de fazer jus e ficar lado a lado com sua obra original nas HQs, ainda […]
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[…] tinha ambos na coleção, aguardando na pilha de leitura. Realmente, excelentes. Sobre o primeiro já falei aqui. O segundo ainda estou devendo. Preacher comecei a comprar agora, em promoções da Amazon, mas […]
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[…] sobre essa que foi a recordista da temporada com nada menos que 26 indicações. Watchmen (que eu já havia indicado aqui) levou os prêmios de Melhor Minissérie, Melhor Atriz em Minissérie (Regina King) e Melhor Ator […]
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[…] escrita. Até mesmo páginas de puramente prosa, como um livro mesmo. Lembra aquelas páginas de Watchmen sobre o Conto do […]
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