Pouco depois de assinar o Prime Video tentei assistir The Office. Assisti uns dois episódios. Achei bem chato.
Só que alguns pontos me deixaram intrigados: vários amigos com gostos parecidos com os meus curtem muito, eu normalmente curto os memes baseados na série e até mesmo uso bastante uma piada recorrente nela, sem nem saber que era de lá, o bordão that’s what she said!

Mais ainda, após assistir Space Force (série da Netflix com a mesma equipe criativa e que por alguma razão esqueci de escrever a respeito) e curtir tanto Brooklyn Nine-Nine (que também tem um dos produtores/escritores de The Office envolvidos), pensei ‘não é possível que eu ache isso tão ruim, deve melhorar depois!‘ Então resolvi há alguns dias dar uma nova chance a ela.
https://pagead2.googlesyndication.com/pagead/js/adsbygoogle.jsA primeira temporada tive que forçar um pouco mesmo. Apesar de ter apenas 6 episódios, foi assistida quase que na força do ódio. Achei bem chatinha e dei poucos risinhos de canto de boca. Mais tarde, fiquei impressionado ao saber que o Steve Carell, protagonista da série interpretando o gerente Michael Scott, ganhou o Emmy por sua interpretação nessa primeira temporada, e sinceramente, não achei nada de mais a ponto de merecer uma premiação.

No entanto, na segunda temporada a coisa começa a mudar de figura. As piadas ficam mais engraçadas, bem como fazem mais sentido por se tornarem recorrentes. Os personagens começam a ganhar profundidade e suas relações cada vez mais fortes e embasadas. A atuação de Steve Carell cresce a cada episódio.
Já na terceira, a série me ganhou de vez. A história fica ainda mais interessante, os assuntos tratados e as piadas ficam mais pesados na mesma proporção. Além do que, os personagens estão praticamente atingindo o pico de sua construção. É impressionante como essa escalada se deu tão rápido.
Talvez eu não tenha gostado a princípio pelo fato de série ser de 2006. De lá pra cá, muita coisa mudou no mundo e no que era ou é considerado engraçado e aceitável. Além do mais, ela foi uma das pioneiras em seu estilo ‘mockumentary‘, e que hoje já e bem comum. Portanto, o que ela tinha de inovadora eu já tenho como ‘normal’.
Mas ainda assim, na maior parte do tempo, The Office não é um tipo de humor que possa agradar a qualquer um. O seu timing de piadas é um tanto peculiar (muito devido aos atores, em sua maioria provindos do teatro de improvisação).
E mais importante: as são politicamente incorretas. Mas não se engane, não é assim tão gratuito e irresponsável. Pelo menos na maioria das vezes, pra quem tem o mínimo de entendimento, são usadas de propósito, como crítica social mesmo.
Na maior parte do tempo em que Michael está em cena sentimos aquela sensação de vergonha alheia, cobrindo a cara com a mão e pensando (ou mesmo dizendo alto e lentamente) PU * QUEO PARIU!!
Todo o elenco é ótimo, como já disse, os personagens crescem e mostram camadas. Particularmente, eu já era fã de John Krasinski (Jim Halpert na série) e pude conhecer o trabalho que praticamente o tornou famoso, e o qual ele faz com muita competência. Me impressionou ‘descobrir’ o ator Rainn Wilson (o impagável e surpreendente Dwight Schrute). Sua performance é tão boa, que comecei odiando Dwight depois passei a amá-lo até chegar a ponto que percebi que amo mesmo é o ator.

E já que falei de Michael e Dwight, uma coisa que pude notar, juntamente com minha esposa, é que certamente esses personagens apresentam algumas ‘questões’. Michael tem problemas para se relacionar com as pessoas, não sabendo lidar com rejeição nem mesmo escolhas. Note que ele nunca escolhe nada de fato. Ele também está sempre à procura de amigos, ele não os tem de fato e precisa dessa aprovação. Outra característica é que ele não tem um pingo de noção de certo e errado ou do que é socialmente adequado. É um inepto social.

Já Dwight leva praticamente tudo ao pé da letra e é extramente ingênuo, o que contrasta com sua percepção um tanto distorcida da realidade. Contudo, é extremamente inteligente, tem uma memória incrível e é consumidor voraz de ficção científica, provavelmente de muitas outras coisas na cultura pop, ao mesmo tempo que ignora muito da mesma. Também não compreende algumas convenções sociais e lhe falta tato para situações delicadas. Não sou especialista, mas ele me parece ter Asperger.

Outros ‘sintomas’ podem ser notados em diversos personagens da série: TOC, compulsões, alcoolismo, outras inabilidades sociais, e muito, muito bullying. Como já disse, tais assuntos podem ser muito delicados, e hoje são cada vez mais tratados com a delicadeza requerida, mas entre 2006 e 2013 (quando a série esteve no ar), a linha ainda era um tanto difícil de ser traçada, e assim, por vezes ela é ultrapassada. Contudo, no geral, a série tem muitos méritos por tentar levantar esses assuntos e ter sucesso nisso em diversos momentos.
Concluo dizendo que valeu a pena insistir na série e que estou gostando muito dela. No momento em que escrevo esse texto estou às vésperas de concluir a terceira temporada (faltando dois episódios do total de 25). Provavelmente voltarei a falar dela quando terminá-la. Desde já, recomendo.
[…] disse no primeiro texto que escrevi sobre The Office, demorei pra gostar da série. A primeira temporada assisti na força do ódio, praticamente. Mas […]
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[…] Pois bem. É claro que como millennial eu me senti um tantinho ofendido com algumas das pontuações. A propósito, pontuação é um dos itens que me ofende. Alguém ali diz que usar pontuação e letras maiúsculas na internet é cringe. Mas gente?! E ainda no âmbito linguístico, a própria escolha do vocábulo cringe me incomoda um pouco, afinal, trata-se de um verbo, não um adjetivo como você pode confirmar aqui. E cringe mesmo é a sensação que se tem ao assistir The Office, especialmente na primeira temporada como eu mesmo já disse. […]
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