Crítica | Mulher-Maravilha 1984

Após os surpreendentes e grandes sucessos de crítica e bilheteria que foram Shazam! e Aquaman, e do não tão bem-sucedido mas ousado e bem feito Aves de Rapina, a expectativa para Mulher-Maravilha 1984 era muito alta.

E mesmo se simplesmente olhássemos para seu antecessor como filme individual, o primeiro filme da personagem lançado em 2017, ainda assim essa expectativa seria alta. Pois Mulher-Maravilha foi um dos, se não O melhor filme do chamado DCEU, que ninguém sabe afirmar hoje se ainda existe.

MM84 começa com uma sequência mostrando Diana ainda criança na ilha de Themyscira, disputando uma competição com as outras amazonas. É uma sequência divertida em termos de ação e até aventura. Contudo, são minutos praticamente descartáveis, exceto pra quem não viu o primeiro filme. A contextualização com o restante da história é muito pequena, poderia ter sido bem mais reduzida.

O que há para se comentar de mais relevante sobre esse início de filme é a qualidade questionável dos efeitos especiais. Ficou a impressão de que algumas cenas ainda não haviam passado por todas as fases de pós-produção e foram entregues pela metade. Dá uma certa vergonha alheia.

No entanto, conforme o filme segue, podemos notar um certo padrão nos efeitos especiais propositalmente causando estranheza. E essa escolha se deve, certamente, pelo fato de o filme se passar em 1984. A meu ver, a ideia era fazer com que o espectador sentisse como se estivesse assistindo a um filme de ação não apenas ambientado, mas também produzido nesse época.

Ou é isso mesmo, ou eu prefiro acreditar nisso. Pois faz muito sentido e acaba realmente causando essa imersão. E caso não tenha sido essa a intenção, então é tudo bem mal feito, e não quero acreditar nisso.

Talvez esse seja o segredo para aproveitar MM84 em sua completude: entre de cabeça, se desprenda, acredite no que vê e sinta como se estivesse lá. Oras, é um filme de super-herói que se passa nos anos 80. Não espere profundidade demais, introspecção, ou mesmo lições. É ação e galhofa a favor do entretenimento.

Tudo isso passaria como completamente natural se não houvesse a bendita expectativa e comparação já citada. O filme tem um tom completamente diferente do seu antecessor. É mais ou menos o que houve entre os dois primeiros filmes solos do Thor e o terceiro. Simplesmente não parecem ser filmes do mesmo personagem.

E que fique bem claro: gosto de todos os filmes do Thor, e amo Ragnarok. Da mesma forma, amei o primeiro filme da Mulher-Maravilha e gostei desse segundo. Só que parece que todos esses filmes são soltos entre si, aleatórios. E se você conseguir vê-los como tal, então também poderá curti-los mais.

Veja o que aconteceu com Shazam, por exemplo. As expectativas eram baixas, tanto pelo momento em que os filmes da DC se encontravam, como pelo personagem em si, menor em apelo com o público e que se permite uma auto-zoeira. O filme é praticamente infantil e é pura galhofa (mas com boa ação e efeitos competentes). E isso o torna fantástico. Ele é o que é e se assume como tal.

Praticamente tudo isso pode ser dito sobre Aquaman, que tem até um tom meio sombrio em alguns momentos, terror mesmo (muito por influência de seu diretor), mas é mais leve e não se leva a sério na maior parte do tempo (afinal, Aquaman né?).

Em MM84 há uma cena de perseguição a um comboio no Cairo é de deixar qualquer Velozes & Furiosos com inveja e desejando um crossover com um super-herói, porque olha, meus amigos… Ou você ama ou você joga a pipoca pro alto de raiva aos gritos de ‘Ah, não! Para! Aí já é demais!’. Preferi amar. É só um filme de heróis nos anos 80, mais verossímil do que se fossem uns caras bombados e carecas nuns carros modificados.

Uma vez que você, assim como fiz, entende que tudo que parece ~estranho~ no filme deve ser encarado como imersão, ele fica mais divertido e você tem um bom filme de ação/aventura oitentista e dá pra ter uma noção de como seria um filme de super-heróis no formato que temos hoje em dia se tivesse sido moda naquela época.

Eu diria que é um exercício de imaginação do que seria uma evolução dos Superman do Christopher Reeve. Inclusive, eu ficaria bem satisfeito se o famigerado segundo filme solo do Homem de Aço seguisse nessa linha. Infelizmente, duvido que seja.

A trama do filme é ok, nada incrível, apenas competente. A explicação para o retorno de Steve Trevor é convincente, uma vez que você embarca na ideia do filme no geral. Gostei do desenvolvimento da personagem de Kristen Wiig (Barbara Minerva), contudo, acho que seu último ato estragou um pouco no geral. Ficou subaproveitada.

Quem dá um banho de atuação e tem um personagem que é um vilão bem construído é Pedro Pascal como Max Lord. Todo seu arco e final ficaram bem feitos e o tom que o ator deu ao personagem fez toda a diferença.

Gal Gadot consegue balancear bem e não chega a surpreender. Quando ela poderia ter brilhado, saindo da sua zona de conforto na cenas dramáticas, ela é inconsistente. Em alguns momentos deixa a desejar, mas em outros tão bem que até nos emociona. Nas cenas de ação já vimos do que ela é capaz e ela segue mandando bem.

Posso estar enganado, mas em alguns momentos o filme pareceu nos guiar para um shipp entre Diana e Barbara. O que seria bem ousado mas cabível dentro da história contada. Oportunidade desperdiçada.

Falando em bandeiras levantadas, o feminismo tão presente no primeiro filme acabou ficando um tanto escanteado aqui. Um filme da MM precisa ter isso bem mais marcante e até óbvio a meu ver. Talvez, novamente, isso poderia ter sido melhor aproveitado com Barbara, que é incrivelmente competente como profissional mas é ofuscada por não seguir o padrão de beleza e personalidade imposto pela sociedade a seu redor e que ela mesma inveja.

Há momentos que mesmo quando estamos profundamente imersos na galhofagem oitentista sentimos uma certa vergonha alheia. [SPOILER] O momento em que Diana ‘aprende a voar’, por exemplo. É uma sucessão de efeitos ruins e interpretação fraca que dá vontade de esconder o rosto. [/SPOILER]

Outra coisa que pode incomodar é a duração do filme. Talvez se ele tivesse uns 30 minutos a menos, ficaria um pouco mais enxuto. Há momentos claramente ‘cortáveis’, como toda a cena do jato invisível que, a meu ver, foi puro fan service e não acrescentou nada à história. Sim, sou fã e quero service®, mas poderia ser mais curtinho, mais sutil talvez. A própria cena pós-créditos mostra como pode e deve ser um FS bem executado.

No geral, Mulher-Maravilha 1984 é um bom filme, sim. Não chega a ser ruim. Eu nem diria nem que é fraco. É só mediano. Especialmente quando comparado ao primeiro e isso está muito relacionado à expectativa em torno dele.

Ter sido lançado em meio à pandemia tem seus lados bom e ruim para a repercussão: como pouquíssimas pessoas (corretamente) se arriscam a ir assisti-lo no cinema e ele saiu simultaneamente em streaming, a bilheteria será baixíssima. Acontece, que se não fosse assim, provavelmente também seria baixa e isso poderia fazer a franquia até morrer. Então, mensurar os números pesando o COVID provavelmente pode acabar tendo sido decisivo para a já confirmação do terceiro filme estar em desenvolvimento.

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