O primeiro Space Jam, de 1996, foi um grande sucesso e um marco em sua geração, além de ser um filme muito divertido e que misturava (muito bem) animação com live action. O filme colocava lado a lado dois gigantes dentro de seus segmentos: o ícone da cultura pop, Pernalonga, e (pra mim) o maior jogador de basquete de todos os tempos ainda no auge de sua carreira (Michael Jordan).
Recentemente, 25 anos depois do primeiro filme, a Warner resolveu repetir a dose e lançou um segundo filme com a mesma ideia. Não é exatamente uma sequência, já que não tem nenhuma ligação com o primeiro (exceto por alguns easter eggs). E também não sei se será uma franquia.
O fato é que, dessa vez, o astro escolhido para jogar basquete ao lado dos desenhos animados foi o maior astro do esporte na atualidade: LeBron James.

Confesso que eu não fiquei lá muito empolgado quando soube do filme, no máximo fiquei curioso. Reconheço a grandeza e importância de LeBron para o esporte e tudo que ele representa hoje. Mas Jordan era um dos meus heróis da minha infância. Nos anos 90 ele reinava sozinho e absoluto. Hoje, King James, até reina e é um fenômeno de redes socias (coisa que não existia nos 90), mas na minha humilde opinião, ainda não está a altura de Jordan (e dificilmente estará). Além do mais, também já não tenho mais tanto interesse pela animações da Warner como antes (Pernalonga também era um dos meus personagens favoritos).
Esperei o filme chegar na (ou no?) HBO Max e assisti com minha família, sem grandes expectativas, apenas pela diversão. E é assim que o filme deve ser analisado: pelo fator diversão, entretenimento. Oras, é um filme com um jogador de basquete (que, até onde sei, nunca tinha atuado) e um bando de personagens animados. O que você espera além de um pouco de diversão descompromissada?
A história começa até com uma certa densidade, mostrando a infância de LeBron, onde ele teve que deixar de ser criança e de fazer o que queria e se divertir, para ser uma jogador de basquete promissor que tinha que treinar duro para ser um grande astro e ser o provedor de sua família.
Não sei até que ponto essa história é real, se é que tem algo de real. Mas é fato que tem sua importância na história, já que LeBron cresce e se torna ‘aquilo que se esperava dele’ e acaba transferindo essa responsabilidade para seus filhos e os cria com essa ‘linha dura’.

Então o filme tem aquele momento onde o jogador acaba sendo envolvido em uma trama na qual precisa jogar basquete ao lado dos Looney Tunes para salvar a humanidade, como no primeiro filme. Só que dessa vez, o filme não deveria, tecnicamente, se chamar Space Jam, já que não se trata de um jogo contra aliens.
Nos anos 90, essa ainda era uma ameaça que chamava atenção do público e estava em alta (com Independence Day e MIB, por exemplo, em alta). Agora, o medo de ser ‘invadido’ vem mais da tecnologia, essa coisa da internet, dos algoritmos e de tudo e todos estarem conectados o tempo todo e dependentes da internet.

Inclusive, o grande vilão do filme é um algoritmo que gera ideias de filmes para a Warner, o Al G (Don Cheadle). É então que a história começa a ficar menos densa, mais leve e boba. Mas isso não é ruim, até porque a execução é muito boa dentro do que se propõe.
O filme passa a ser um festival de easter eggs. Os personagens viajam por todos os ‘universos’ do grupo Warner Media em busca dos tunes que estão espalhados por esses universos. Patolino e Gaguinho estão na DC, Lola está em Temiscira (se tornando uma Amazona), a Vovozinha (do Piu Piu) e o Ligerinho estão na Matrix, tem personagem em Austin Powers, Mad Max, Rick and Morty e até em Casablanca!
Isso sem falar que na hora do jogo, toda a torcida é formada por outros personagens que vem de literalmente todos os cantos de todas as propriedades do conglomerado do qual a Warner faz parte, inclusive com referências que as crianças não fazem a menor ideia, seja porque são velhos demais (além de Casablanca, tem os personagens que hoje são um tanto obscuros dos estúdios Hanna-Barbera como Tutubarão, por exemplo) ou porque não é nada adequado para essa faixa etária (como Game of Thrones, It [!] e até mesmo Laranja Mecânica [!!]).
É muito divertido ficar tentando reconhecer os personagens, dá pra rever o filme várias vezes só pra ficar catando esses easter eggs que, obviamente, acrescentam praticamente nada na história de fato. Esse aspecto do filme me lembrou bastante Detona/Wi-fi Ralph e Jogador Nº 1.
Outro easter egg muito curioso acontece em um momento do filme onde o time dos mocinhos está perdendo e tentando levantar o moral da equipe, eles precisam de uma arma secreta (no primeiro filme é aquela garrafinha de água). Aqui, Frajola encontra uma pessoa muito importante no meio da torcida e traz pro vestiário no intervalo. Mas não exatamente quem você está pensando, ou quem somos levados a acreditar que seja. E a resolução/revelação é muito boa.
No fim da história, o conflito entre LeBron e seu filho (que o levou a se juntar ao vilão) se resolve, todos aprendem sua lição, há um ‘sacrifício’ (que acaba sendo desfeito sem muita explicação) e há o final feliz para todos.

São quase duas horas de um filme infantil (ou para a família) com estrutura de roteiro clássica, com o fator diversão funcionando muito bem e com um LeBron bem carismático (fica a seu critério dizer se menos, mais, ou tanto quanto Jordan).
Não sei a razão pela qual o filme foi tão criticado, não li nenhuma crítica e nem imagino qual seja a explicação para tanta reclamação. Tenho amigos que disseram que o filme é horrível. Eu achei ótimo, especialmente dentro do que se propõe: entreter.