Recomendação | O Urso

Quando falei pela primeira vez sobre Ted Lasso eu frisei que era uma série que tinha como pano de fundo o futebol, mas isso era uma das coisas menos importantes na história. O mesmo pode ser dito sobre O Urso: ela parece ser sobre um restaurante, sobre culinária; mas isso é apenas uma pequena parte do que ela é sobre.

Eu mesmo ão me interessaria em assistir a essa série se fosse me guiar apenas pela sinopse: “Depois de herdar a lanchonete da família ‘The Original Beef de Chicago’, o jovem chef Carmy luta para administrar seu restaurante enquanto tenta superar uma grande perda. Ele trabalha ao lado de uma equipe de cozinha que se tornou sua nova família, juntos lutam pelo crescimento do local.”

Vá lá, eu gosto do gênero drama, e claramente é isso que move a série. No entanto, não vi algo ali que valesse minha atenção em meio a tantos outros dramas (e dramédias) renomados, premiados e muito mais hypados.

No entanto, sou um consumidor ávido de canais do YouTube que falam sobre filmes e séries, sendo que alguns dos meus favoritos, e que falaram sobre ela, o Série Maníacos, o Entre Migas, e a Isabela Boscov (mas pode só buscar ‘O Urso crítica’ no YouTube e assistir qualquer um). Basicamente todos eles elogiaram muito essa série, que até então eu conhecia pelo título original ‘The Bear’.

Então decidi que deveria dar uma chance. Nos primeiros episódios, confesso que só achei ‘ok’, nada incrível, mas não ruim a ponto de nem tentar. Segui assistindo. Já por volta do episódio 4 estava achando muito boa, e terminei a primeira temporada achando excelente, totalmente de acordo com meus influenciadores favoritos.

Quando terminei a segunda temporada, estava em estado de êxtase. Completamente apaixonado e impactado pela produção e narrativa avassaladora e, principalmente, pelas atuações absurdas.

Acontece que O Urso é uma série dramática que na verdade é sobre seus personagens, ela foca em contar a história daquelas pessoas e mostrar como uma ajuda (ou até atrapalha) a outra a evoluir. E a função da cozinha no meio disso tudo é deixar o ritmo extremamente frenético e ser o fio condutor da narrativa.

E quando digo isso, não é exagero. Na verdade, eu nem sei como expressar em palavras a sensação de agonia e ansiedade que ver a cozinha trabalhando a todo vapor transmite. O uso da câmera, a trilha sonora, os diálogos misturados e gritados… Meu Deus, que nervoso! Todo esse combo faz com terminemos alguns episódios fisicamente cansados. Nunca havia sentido isso em uma série.

Se você costuma prestar atenção em questões técnicas, como fotografia por exemplo, você se deliciará ainda mais com O Urso. Ela é um primor e não é só uma opinião, ela foi indicada a diversas premiações, já tendo vencido algumas delas em sua primeira temporada. É séria candidata a ganhar muitos outros prêmios para sua segunda temporada.

Inclusive, se você seguir esta recomendação e começar a assistir O Urso, saiba que pode ser que você demore uns 3 ou 4 episódios pra ser realmente pego por ela (assim como aconteceu comigo). Se sentir que está demorando, insista, vai valer muito a pena. Especialmente porque a segunda temporada é fantástica!

Se há um episódio espetacularmente caótico na primeira temporada (o episódio 7, entitulado ‘Review’), onde mais da metade do tempo é um sufocante plano sequência, na segunda temporada há um tão impactante quanto (no mínimo), o episódio 6 chamado ‘Fishes’. As participações especiais elevam ainda mais o altíssimo nível das atuações (coisa digna de Emmy de Melhor Participação Especial). Ele é tão sensacional, que a duração normal não caberia tanta maravilha e tem mais que o dobro do tempo padrão dos episódios. Quando ele finalmente acaba, depois de te dar uma surra emocional, te deixa ali jogado, digerindo tudo aquilo que acabou de assistir e viver ao lado de tantos personagens incríveis. Nem dá pra falar nada dele sem dar spoiler, você realmente precisa dessas surpresas.

E o melhor ainda fica para o season finale apoteótico, uma montanha russa de emoções onde você vai de ansiedade a quentinho no coração, passa por pânico, acha que vai terminar chorando de emoção e esperança, mas aí é socado no estômago e quando aparece os créditos você ainda vai estar caído no chão tentando assimilar o que aconteceu.

Sério, há algum tempo nenhuma obra de ficção me causava tantas emoções juntas. Tenho assistido muita coisa, e procuro me envolver, sentir mesmo. Mas O Urso, especialmente na sua reta final (até agora) foi a que mais faz o coração bater forte.

Vale até mesmo um alerta de possíveis gatilhos para quem sofre com ansiedade de maneira mais intensa. A maioria dos episódios vai fluir de boa, mas em alguns você pode ser realmente atingido de forma que pode até precisar de algum tipo de remédio (metafórico ou literal) para desacelerar.

O Urso é uma daquelas boas surpresas, algo que poucas pessoas fora dos nichos ‘cinéfilos, série maníacos, consumidores vorazes de cultura pop’ estão falando e conhecem, mas quem está por dentro do que rola na indústria sabe muito bem a obra de arte que ela é. Se você não é uma pessoa absolutamente fria e que não se emociona com ficção, você será impactado por essa série. Por isso, é altamente recomendada.

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