Crítica | Universo X

Até os maiores erram. Uma das provas disso é Universo X. Nessa HQ podemos ver que um dos meus ídolos nessa mídia, Alex Ross, errou. Errou rude. Tudo bem que ele não estava à frente dos desenhos aqui, sua especialidade. Mas só de ter associado seu nome à obra já fica como mancha na sua carreira, tipo quando o Tarantino colocou seu nome naquela coisa pavorosa que é O Albergue.

Segundo consta, a ideia de Terra X surgiu em notas que Alex fez sobre um futuro distópico do Universo Marvel, mais ou menos parecido com o que ele fez em Reino do Amanhã na DC. E Terra X é até legalzinha. Não é nenhuma obra prima como sua ‘concorrente’ na DC, mas é ok. Agora, a continuação que estamos analisando aqui, Universo X, está muito aquém.

A história é uma continuação direta de Terra X, assim sendo, vou evitar ao máximo dar spoiler dessa obra (de ambas na verdade, mas é impossível fazê-lo totalmente spoiler free). Assim sendo, sabemos que muitos, praticamente todos, dos heróis do Universo Marvel que conhecemos estão mortos ou muito ‘enfraquecidos’ ou no mínimo muito diferente do que já foram.

A massa da Terra é reduzida causando uma mudança de órbita e do campo magnético, afetando drasticamente o clima do planeta. Sob a influência de Mefisto, Immortus, que agora é papa, funda uma igreja que defende a dominação mutante da galáxia e quer a destruição dos aparelhos de Reed Richards que eliminaram a mutação da população. Enquanto isso, o Capitão Marvel (Mar-Vell) reencarna como o filho de “Ele” (Adam Warlock) e “Ela” (Kismet), mas sua alma permanece no limbo dos mortos.

Então Mar-Vell, aqui uma criança, embarca numa jornada mundial em busca de peças para negociação com os mutantes e impedir uma guerra no Limbo dos Mortos entre Thanos e Senhora Morte contra Mar-Vell (sua alma, no caso) e seus aliados que pensam estar vivos mas não estão (ou estão, depende do ponto de vista) e acham que aqueles que estão vivos é que morreram.

Bem fácil de entender, não? Pois é, exatamente. Mesmo que você consiga entender através desse resumo, a de convir que não é lá muito simples. Além do mais, a HQ exige que você conheça profundamente todo o lore da Marvel, outra tarefa não muito simples.

Junte-se a isso o fato de que a história é praticamente toda narrada, e seus narradores mudam por vezes. Na minha opinião, isso torna o ritmo da história extremamente arrastado e desinteressante, nada fluido. Universo X requer muita paciência e boa vontade do leitor para ser concluída.

É bem verdade que ela tem alguns bons momentos. Ela levanta algumas discussões filosóficos e, principalmente, religiosas. Há coisas boas a se tirar dela.

E mesmo quando não se conhece todos os personagens, a maioria deles acaba sendo ‘explicado’ ao longa da história. Contudo, esse excesso de explicação pode ser outra coisa que atrasa o ritmo do desenvolvimento da história. Já vimos também um futuro distópico Marvel em “Velho Logan” e lá as explicações, quando acontecem, são bem mais sucintas ou pelo menos pontuais.

Mas acredito que isso se deva muito a um dos principais problemas de Universo X: sua megalomania, querer ser épico, gigante a todo custo. A HQ se perde no meio de tanta coisa, tanto conceito e tantos personagens, repleta de páginas puramente explicativas e que até recontam a origem dos heróis que conhecemos, tudo para validar aquilo que quer nos fazer acreditar.

E olha que mesmo tendo mais de 700 páginas muito bem recheadas com muito texto entre os quadrinhos, até mesmo nas chamadas splash pages, onde há muitos personagens envolvidos e/ou uma cena de batalha rica em detalhes, há também bastante coisa escrita. Até mesmo páginas de puramente prosa, como um livro mesmo. Lembra aquelas páginas de Watchmen sobre o Conto do Cargueiro.

Aliás, por incrível que pareça, essas páginas podem até ser algumas das mais interessantes dsa HQ, já que trazem belíssimas artes de Alex Ross em preto e branco.

Se entender tudo que a HQ quer contar já não é tarefa fácil, acreditar nas soluções pode ser até mais desafiador. Quem conhece bem os personagens Marvel sabem que Mefisto é um grande vilão que tem até seu potencial um tanto desperdiçado. Aqui, ele acaba sendo um dos (senão o maior) vilões da trama.

Sua motivação é até bem válida, foi uma ótima ideia para usar bem o personagem. Mas a forma mirabolante como ele executa seu plano e, da mesma forma, a solução de ter que ser necessário ‘matar a Morte’ para dar fim aos seus planos é, mais uma vez, um tanto megalomaníaca.

Talvez se a trama fosse um pouco mais envolvente e mais dinâmica, a gente até engoliria com mais facilidade essas saídas, porém ela só faz acentuar a rejeição à obra no geral.

E já que estamos falando de termos gerais, Universo X pode até ser interessante de ser lida se você quer muito conhecer o Universo Marvel e tem (muita) paciência e/ou leitura dinâmica. Mas certamente será muito melhor apreciada pra quem já é um leitor muito experiente desse universo e quer ir além, a um lugar diferente e praticamente inimaginável, além da desconstrução de muitos personagens clássicos.

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