Finalmente assisti O diabo de cada dia, filme Original Netflix. Desde quando vi o trailer, pensei ‘Olha só! Um filme Netflix com Tom Holland, Robert Pattinson, Sebastian Stan e Bill Skarsgård juntos! (Homem-Aranha, Batman, Soldado Invernal e It, respectivamente) Quero ver!’ E o trailer era bem sombrio, parecia um filme de terror, mas daqueles que eu curto.
A propósito, se você também não curte tanto filmes de terror mas quer umas indicações de filmes desse gênero que são ‘assistíveis’ e podem ser bem interessantes, assim como esse, você pode conferir aqui meu post sobre esse assunto.
Por essas razões fui com uma certa expectativa. E o filme até que as atendeu bem.

O primeiro terço do filme pode ser considerado um tanto lento para um espectador ‘comum’ ou até mesmo quem foi assistir pensando que seria um filme de terror mais ‘tradicional. Mas é essencial para o entendimento do filme, que se caracteriza pela construção da história e dos personagens. Então não ignore, sinta o filme e fique atento a tudo.
Nessa primeira parte temos foco maior em Willard (Skarsgård) e sua relação com sua esposa e filho (aqui ainda interpretado pelo pequeno Michael Banks Repeta). É importante vermos como e porquê o personagem perdeu sua fé e depois a recuperou. Outra questão sobre a fé e como ela é apresentada e o papel que representa na vida dessas pessoas no final dos anos 50 e início dos 60, especialmente diante de tudo que o mundo passava nessa época.
Ou seja, um bom filme pra quem gosta de contexto histórico também.

Já a segunda parte do filme é sobre como esses (pesados) eventos mostrados na primeira parte afetaram as crianças daquela época e os traumas que deixaram neles. Então vemos Arvin (Holland), filho crescido de Willard lidando com todas essas questões. Nessa parte também conhecemos Preston Teagardin (Pattinson), um pastor muito ‘controverso’ que assume a igreja daquela região.
Além destes, conhecemos muitos outros personagens em histórias que parecem um tanto independentes umas das outras mas que eventualmente se conectam de forma quase surpreendente. E mesmo personagens que parecem um tanto distantes se cruzam com coerência.
Em diversos momentos eu pensei em como tem uma certa influência do estilo Tarantino de contar histórias. Sem todo o sangue jorrando e momentos WTF. Esse é um filme que se leva bastante a sério e conta histórias extremamente pesadas. Não que Tarantino não conte, mas aqui não sequer uma quebra de tensão ou nem mesmo um pequeno alívio cômico.
Falando em sangue, mais uma vez, esse é um filme que é muito terror pelo que ele faz você sentir do que pelo que você vê. Quase não cenas com maior violência e pouco é mostrado que possa ser considerado minimamente gore. É tudo bem sugerido mas com alguns momentos que causam uma certa agonia. Mas nada tenso demais, pra mim, que tenho o estômago fraco, foi até tranquilo de assistir. Até mesmo as cenas de sexo são muito mais sugeridas do que visuais.
Por fim, o último terço do filme é muito bom. As tramas se entrelaçam, os personagem atingem seus ápices e tudo faz sentido e se encaixa. O ‘embate final’ é bem emocionante e fecha bem a história.
Trata-se de um filme muito mais de drama com algumas cenas com um certo clima de terror, mais puxado pro suspense. Mesmo com o ‘Diabo’ no título, não há absolutamente nada sobrenatural. É muito mais sobre religião, sendo sim uma crítica, mas ao fanatismo e aos charlatões.

Só que o filme não leva isso pro lado caricato, ele mostra que há validade na fé e há pessoas boas e inocentes, mas que as ruins se sobressaem. O cerne do filme é mesmo sobre traumas pessoais e suas consequências nas vidas de todos.
A atuação de Tom Holland é competente, mas nada espetacular. Em alguns momentos ele se destaca, mas nada que valha uma indicação a um prêmio. Serve pra mostrar como ele tem versatilidade e pode ir longe.
Já Pattinson se destaca bastante, com um personagem mais repugnante ao qual ele empresta uma voz muito característica e boa expressão corporal. Pra quem ainda não conhece bem seu trabalho, dá pra ver também como é um artista talentoso.
Quem é o mais brilhante na atuação é Skarsgård. Esse sim, acaba mostrando muito talento no pouco tempo que passa em tela. Conseguimos sentir com muita clareza tudo que ele quer nos passar. Fiquei com vontade de ver mais desse ator e saber até onde ele pode ir.
Se as atuações não chegam a ser espetaculares o tempo todo, a parte técnica do filme é. Todo o ‘clima’ do filme é muito bom, o que faz até mesmo quem não entende muito de trilha sonora e fotografia saber que o trabalho ali foi muito bem feito.
O diabo de cada dia é um bom filme, intenso e pesado mas que é possível ser assistido sem causar sustos ou ser ‘cringe’, daquele tipo que te faz querer olhar pra outro lugar ou fechar os olhos. É tudo na medida certa. Por isso, recomendo.