Review | Divertida Mente 2

Divertida Mente 2 tinha uma missão difícil: superar ou pelo menos igualar o sucesso e aclamação do primeiro filme, um dos melhores da Pixar de todos os tempos (na minha opinião, o melhor). A expectativa era grande. E dá pra dizer com segurança que ele entregou tudo e atendeu com folga essas expectativas.

Nesse filme temos um salto temporal e acompanhamos a protagonista Riley entrando na puberdade. Se antes as emoções eram de uma criança, agora há muita coisa nova em jogo e novas emoções chegam para bagunçar tudo.

O primeiro filme foi uma grande surpresa. Ele tem muitas camadas e pode levar a profundas reflexões. E o mais legal, é que se uma criança assiste, ou até mesmo um adulto que não tem a intenção de pensar ou sentir muita coisa, ele é ótimo como entretenimento puro. Essa é uma das características mais marcantes, essa habilidade dos criadores em entregar um filme que atinge forte a diversos públicos.

O segundo consegue repetir muito bem isso. No entanto, talvez atinja um pouco menos as crianças pequenas, visto que da mesma forma que a protagonista cresceu, o seu público primário passa a ser agora pré-adolescentes na mesma faixa etária, que vão se identificar imediatamente com as situações, especialmente as meninas.

No meu caso, vi isso muito de perto. Na época do primeiro filme, minha filha tinha apenas 3 anos, esse foi o primeiro filme que ela viu no cinema. E obviamente viu outras vezes depois em casa. Ela adorava, assim como eu. Agora, ela tem 12 anos, quase a mesma idade que a Riley (que completa 13 no filme), então só por aí já seria identificável com facilidade. Porém, o mais importante aqui, é quais são essas novas emoções e como elas impactam tanto a protagonista como nós, espectadores, e especialmente ela, minha filha.

A principal nova emoção é a Ansiedade. Ela acaba meio que assumindo o papel de vilã no filme, ainda que não intencionalmente. E tanto eu como minha filha, sofremos com essa bendita emoção. Então ver as excelentes alegorias que o filme usa para mostrar como ela age no nosso corpo e mente, foi catártico (literalmente, nesse caso).

Mais uma vez, essa questão de como somos movidos pela emoção no comando das situações é mostrado de forma lúdica mas também clara. Ver aquilo tão explícito, literalmente desenhado na tela, é uma mistura de gatilho e libertador ao mesmo tempo, por mais que possa parecer contraditório.

Aliás, tive algumas lágrimas escorrendo ao longo do filme de form geral. Mas o momento que me pegou muito mesmo foi a crise de ansiedade. É um semi-spoiler, é verdade. Mas por mais que seja importante na história, era de se prever que rolaria.

A forma como a Anisidade toma o controle pra si e literalmente trava enquanto a Riley começa a hiperventilar e pensar em tudo ao mesmo tempo de forma acelerada… Eu mesmo quase tive uma crise. Talvez seja também alguma outra questão minha, relacionada a hipersensibilidade, de se colocar muito na posição do outro.

E isso pra mim, foi o melhor do filme. Pois esse é um dos fatores mais importantes que determinam quando uma obra de arte é realmente boa: a forma como ela se conecta com você, o que e o quanto ela te faz sentir algo. Nesse ponto, Divertida Mente 2 é preciso.

Se no primeiro filme vemos como é importante para crianças aprenderem a lidar com o que sentem, como isso influencia o seu crescimento, entender que todos os sentimentos têm sua função e a forma como lidam com esses sentimentos quando adultas (e naturalmente como lidam com os sentimentos de outras pessoas), aqui, o foco é mostrar como lidar com a saúde mental mais amplamente, mas de forma bem leve, talvez até superficial. Apenas mostrando o que é isso, na intenção de talvez criar empatia em quem precise e pertencimento a quem sofre com essas questões.

Por essa razão, Divertida Mente 2, na minha opinião, supera o primeiro. A forma como eu me conectei com ele é mais intensa, eu me vi mais na tela. Então ele não apenas supriu minhas altas expectativas, como superou.

O fato de não ser mais novidade pesava, havia o risco de se repetir. De fato, analisando de forma fria, há bastante repetição no roteiro do segundo filme em relação ao primeiro. Mas o que esse segundo traz de diferente, é fundamental para justificar sua existência. Além do mais, qual o problema de haver repetição se deu certo? Não fui esperando nada muito novo, eu queria mesmo era sentir novamente muito do que o primeiro me fez sentir, exceto a surpresa obviamente. E senti até além.

No que diz respeito aos aspectos técnicos do filme, a Pixar continua evoluindo. A animação está incrível, todos os detalhes que conseguimos ver (especialmente na tela grande do cinema) são espetaculares.

Assim como no primeiro há um momento em que o filme sai um pouco do 3D, nesse agora há mais personagens com estilos de animação bem diferentes. Aliás, um deles foi o que mais me arrancou risadas. Talvez nem todos riam tanto, mas eu me acabei, de chorar de rir mesmo. Talvez porque a referência que ele faz me foi muito familiar.

Um outro pequeno ponto negativo pra mim, além da ‘falta de originalidade’ do roteiro, foi a dublagem um pouco forçada nas expressões atuais. A sensação que eu tenho é que quando assistirmos novamente daqui uns 10 anos, estará tudo um tanto datado e pode até não fazer mais sentido. Nada muito grave, mas acho que poderia ser mais natural.

Nem vou falar muito do simbolismo perfeito, todo o cuidado com os visuais dos personagens, as cores, as metáforas… Tudo isso já estava lá no primeiro filme e segue muito bem feito aqui. Esse é outro ponto que não faz sentido algum criticar, pois é justamente isso que se esperava desse filme.

Diante de tudo isso, Divertida Mente 2 é um filme fundamental para a faixa etária que ele busca atingir em especial, que cresceu junto com a protagonista e se não está já passando por questões similares, consegue se identificar totalmente com elas. E mais do que isso: também é um filme muito importante para todos nós adultos, especialmente os que sofrem com transtornos causados pela ansiedade.

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