Sexta-feira passada eu saía de casa para ir trabalhar, como sempre o faço, rotineiramente. Eis que num terreno baldio (é assim que se escreve isso? Nunca escrevi essa palavra…) na esquina da minha casa avisto um pequeno filhotinho se arrastando pelo chão. Olho melhor e percebo que existem outros na mesma situação, dentro de uma sacola plástica. Fico arrasado, pois observar aquele bichinho, que provavelmente havia nascido naquele mesmo dia mais cedo, ou no máximo no dia anterior, que se arrasta ali no chão enquanto agoniza, é de partir o coração de qualquer não-apreciador-de-animais-em-casa.
Resolvo então voltar pra casa e contar pra Mah, mesmo sabendo que não havia muito que pudéssemos fazer. Imediatamente ela foi lá e recolheu os bichinhos, que até então eu pensava que fossem cachorrinhos.
Já no trabalho, fico sabendo que se tratavam de gatinhos, que eram 5 ao todo, e que seria muito dificil cuidar deles e que eles sobrevivessem, devido a todos as dificuldades. Lembro bem que as palavras que usei com ela foram: “Não tem muita coisa que a gente possa fazer, mas sei o que a gente não podia fazer, que era deixar os pobrezinhos lá” O que é verdade. Não poderíamos simplesmente ignorá-los, tínhamos que ao menos tentar fazer alguma coisa.
Os dias foram se passando. As noites também…. As noites em claro ou mal-dormidas. Coitada da Marcela… Pouco dormiu nessa última semana.
E os pobres gatinhos iam morrendo um após o outro…. Até que sobrou apenas um. Brinquei com a Mah, que se esse vingasse, o chamaríamos de Guerreiro, pela sua força e luta pra sobreviver, e em alusão ao Gato Guerreiro, do He-man. E de quebra ainda estaria fazendo uma homenagem aos tricolores da casa, já que essa é a alcunha do time.
Ontem, após vários dias de tempo fechado e chuvoso, abriu um belo solzão. Então a Mah resolveu levá-lo pra pegar esse solzão. Daí, eis que ele começa a ficar fraquinho, já não consegue miar alto e não reage rapidamente aos estímulos, tal qual os outros faziam quando já estavam em estado mórbido. Começamos a nos preparar para o pior. Fui trabalhar nessa expectativa. Marcela já chorava por antecipação.
Do trabalho, durante um intervalo, ligo e pergunto, esperando más notícias. Então ela diz: ele tá muito bem, miando alto, reagindo bem e até abriu os olhos!! Não só o bichinho estava bem, como até mostrou evolução. Abriu os olhinhos e a Mah disse que eram muito bonitos, azuizinhos. Final feliz à vista, certo?
Foi o que pensamos. Fomos dormir, e o bichinho estava lá, elétrico, não nos deixando dormir, como de costume. Porém, sabíamos que algo estava errado. Ele o tempo chorava de frio. Não era fome, pois foi bem alimentado e já tava rejeitando comida. Não era xixi nem cocô. Era frio mesmo, pois sempre que o pegávamos sentiamos sua barriguinha geladinha. O aqueciamos e o colocavamos de volta na caminha, junto com seu ursinho, que usavamos para que ele achasse que tinha uma companinha (o que vinha fucionando). Minutos depois, mesmo coisa. Até que eu peguei de vez no sono.
Sou acordado então as 6h com a Mah chorando, me dizendo que ele morreu… Assim… Acreditamos que o fato de ele estar ficando sempre com frio tenha a ver. Marcela disse que o aqueceu diversas vezes durante a madrugada, mas ele tornava a ficar geladinho rápido. Até que finalmente não resistiu. Uma grande pena. Mais ainda pra Mah, que perdeu noite de sono, se empenhou, fez tudo que podia e estava ao alcance… Mas sabia que a tarefa era muito dificil. Estava além da vontade e esforço dela (e dele tb). Gatinhos (e bichinhos em geral) já tem dificuldade de sobreviver mesmo sendo cuidados pela mãe, sem ela sempre piora a situação.
Sabemos que tudo que estava ao alcance foi feito. Quiçá, mais do que poderíamos. Fica a lembrança desses lindos bichinhos, que sofreram, foram abandonados por seres humanos terríveis, de forma igualmente terrível, mas que tiveram a chance de receber carinho e atenção, e que mesmo nos dando trabalho e tirando sono, nos fez muito felizes e orgulhosos de nós mesmos durante essa semana.
Aqui ficam, então, eternizados esses pequeninos que pra sempre estarão em nossos corações, representados por aquele que mais resistiu, o nosso bravo GUERREIRO.
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O belo Guerreiro e seu amiguinho Papai Urso Amarelo. =~( |