Qual a diferença entre nerd e geek?

Há alguns anos quando trabalhava no CNA Nova Iguaçu promovi um evento em homenagem ao Dia do Orgulho Nerd. É claro que havia um objetivo pedagógico, que era praticar o idioma dentro de um contexto diferente e que lhes agradasse.

Obviamente nem todos os alunos eram entendidos do assunto. E por essa razão, uma das atividades consistia em diferenciar um nerd de um geek. Como há uma possibilidade de você não ter sido um desses alunos e que não saiba a diferença entre os dois grupos, eu repito o questionamento: Você sabe a diferença entre nerd e geek?

Ambas as palavras são frequentemente usadas de forma intercambiável, como se significassem a mesma coisa. É bem verdade que por vezes as ideias e, especialmente, os gostos se cruzam, mas em essência, há algumas diferenças.

Fazendo uma diferenciação bem básica, temos o seguinte:

  1. Geek – Um entusiasta de um tópico ou campo específico. Os geeks são, em geral, adeptos ao colecionismo, reunindo fatos e lembranças relacionadas ao assunto de seu interesse. Curtem novidades, coisas ‘descoladas’ e modernas que seu assunto tem a oferecer.
  2. Nerd – Um intelectual estudioso, embora normalmente tenha um tópico ou campo específico como favorito. Os nerds são adeptos da ‘realização das ideias’ e concentram seus esforços na aquisição de conhecimento e habilidade em detrimento de curiosidades e coleções de objetos. Alguns diriam que um nerd é um geek antisocial ou simplesmente prefere atividades solitárias.
É uma imagem longa e está em inglês, mas é bem útil

Existem até estudos sobre a etimologia dos termos! Ben Nugent, autor de “American Nerd: The Story of My People“, chama a si mesmo de nerd, mas, por sua própria definição, ele pode ser considerado um ‘geek sobre nerds’. Confuso?

Ele menciona a expressão ‘I geek out on it‘, que significa algo como ‘eu sei muito sobre isso‘. “Geek significa alguém que é quase excessivamente especialista em um assunto específico“, disse Nugent. Ou seja, “geek out” é o ato de se tornar um “sabichão”.

Ele ressalta que essas palavras têm etimologias muito diferentes, embora agora possam quase ser usadas da mesma forma.

Segundo Negent, o termo nerd foi impresso pela primeira vez no livro de Dr. Seuss (de 1950), “If I ran the zoo“. Uma das criaturas do zoológico – um velho zangado – é chamada de nerd, mas tem pouca semelhança com o que as pessoas geralmente pensam como nerd hoje.

Em 1951, um artigo da Newsweek se referia à palavra nerd como gíria regional de Detroit, Michigan, para “chato ou quadrado”. Nas três décadas seguintes, a palavra não teve muitas associações positivas, conforme relata Nugent.

Já geek surgiu significando quase exatamente o oposto de nerd. “Foi usado no início do Século XX como um termo para um carnie (uma espécie de arlequim) que não era tão habilidoso em fazer truques ou divertir pessoas que a única coisa que ele podia fazer no carnaval para ser interessante era morder a cabeça de animais vivos. O que denotava um perdedor de verdade que não era realmente qualificado “, disse Nugent.

E enquanto a primeira imagem de um nerd que vinha à mente graças as esquetes de programas humorísticos, e filmes como “A Vingança dos Nerds”, de 1984, mostravam pessoas fracas mas inteligentes, a palavra geek era aplicada a inventores do Vale do Silício que tinham dinheiro, poder e conhecimento vasto.

E assim, geek passou a significar algo mais como um nerd empoderado. Um nerd que é definido pelo seu conhecimento de um determinado assunto“, disse Nugent. Por essa razão, muita gente prefere ser chamada de geek por conta desse fator de empoderamento.

Você pode diferenciar um geek de um nerd com base em parte na aparência, mas principalmente por ações. Qualquer pessoa que você encontre em algum tipo de iteração social, como uma festa, provavelmente é um geek, já que os nerds tendem a ser introvertidos ou reclusos.

De alguns anos pra cá, ser geek se tornou cool. Indo totalmente no caminho inverso do que é ser nerd, a pessoa que é geek passou a ser a mais legal do grupo, da turma. E se essa pessoa fosse uma menina então, perfeito. Todo mundo queria ser amigo da menina que joga (e entende de) games, adora super-heróis, conhece referências da cultura pop.

Surfando nessa onda, a série The Big Bang Theory acabou, a princípio ajudando a difundir esse novo status quo, afinal, sua ”catch phrase” nas primeiras temporadas era ‘geek is the new sexy‘.

Contudo, ao mesmo tempo, acabou por mesclar os conceitos de geek e nerd, de certo forma, causando um desserviço nesse sentido, mas ao mesmo tempo desfazendo alguns paradigmas.

Quando Raj tinha simplesmente não conseguia falar na presença de garotas, ele aumentava o esteriótipo do nerd. Sheldon, com seus sérios problemas de interpretar convenções sociais e sutilezas como ironia e sarcasmo, também reforçavam o nerd padrão. E o que dizer de Howard, que era praticamente um tarado?

A ideia era humanizar e dar camadas as esses personagens, mas indo ainda mais fundo, mostrar problemas psicológicos sérios através da leveza do humor e com pouca apelação, que era mais sugerida do que explícita. Quem acompanhava a série e sabe interpretar textos, pôde ver isso ao longo dos anos. E foi lindo ver esses personagens crescerem e se desenvolverem de forma tão bacana.

Mas quem via episódios soltos ou esporádicos, ou mesmo não conseguia ler as entrelinhas, só via um bando de nerd virjão. E isso acabou por atrapalhar a desmistificação do nerd e do geek, além de fazer tudo parecer a mesma coisa.

Assim sendo, por mais que por alguns anos tenha sido fácil ter orgulho de ser geek (e até mesmo de ser nerd), ainda é preciso muita explicação e nem sempre é fácil sair por aí ostentando feliz sua bandeira geek/nerd. Há uma grande chace de você ser chamado de infantil ou até mesmo fútil. Não ser levado a sério.

Por fim, espero que esse texto tenha te ajudado a entender essas nuances e aprender a respeitar e conviver bem com um nerd e/ou um geek.

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