A importância da Capitã Marvel

Quem me acompanha nas redes sociais (e até mesmo quem só lê aqui), sabe que recentemente fiz uma maratona de todos os filmes do MCU com minha filha e minha esposa. E foi muito bom pra rever alguns filmes que só tinha visto uma vez e prestar mais atenção em detalhes e diferentes aspectos em alguns outros.

Um desses que revi pela primeira vez foi Capitã Marvel. Eu tinha visto apenas no cinema com as meninas e me lembro de ter curtido bastante, apesar de todo shade que o filme recebeu da maioria, dizendo que era chato e forçava, empurrava a personagem goela abaixo. Diziam até que a Brie Larson não é carismática o suficiente. Pra mim, desde aquela época, mas hoje ainda mais, isso tem muito a ver com o machismo incrustrado nas pessoas que nem percebem isso, e claro, na escrotidão da comunidade nerd no geral.

É claro que este é um filme do MCU, e que portanto precisa estar conectado com ele e com uma história maior. Mas ainda assim também é um filme único, com sua própria história de origem, que também deve funcionar sozinho. Assim, é preciso observar que há um público alvo muito claro: as meninas. Nem tanto as mulheres, mas especialmente as meninas, que ainda não tinham uma personagem tão forte e com tanta importância para se apegar nesse universo.

O filme não chega a ter mensagens tão impactantes para uma menina saber que ela pode fazer o que quiser e acredita. Mulher-Maravilha, por exemplo, acaba sendo mais óbvio nesse sentido. As mensagens em Capitã Marvel são mais sutis. Porém, está tudo lá. É só olhar com atenção. E talvez, isso acabe funcionando como ‘mensagem subliminar’. O fato de você ver algo acontecendo e acreditar naquilo sem pensar que foi colocado de propósito, com o intuito de ensinar algo. Talvez eu esteja enganado, mas vejo assim.

Diversas vezes é dito a ela que ela não deveria estar ali, que há uma razão para não haver mulheres piloto, que ela não tem força o bastante… Desde pequena, quando queria pilotar kart, seu pai permitia que seu irmão o fizesse mas ela não poderia. No seu treinamento militar, ela é humilhada e exposta como ‘menor que os outros’.

Até mesmo no momento em que ela está lendo um mapa e um motoqueiro ‘elogia’ sua roupa e depois diz ‘nem um sorrisinho pra mim?’ e logo depois, diante de sua negativa/ignorada, solta um ‘maluca’. Isso mostra de forma bem lúdica como mulheres são diminuídas de forma quase inconsciente e tratadas como loucas quando decidem ‘agir como homem’, no sentido de fazer o quer e dizer o que pensa. Fora o velho estigma que ‘mulher é tudo louca’.

Outra coisa um tanto mais sutil, é a forma como ela precisa (ou prefere fazer de propósito) ficar calada ou não fazer tudo o que pode e quer fazer para que um homem não seja diminuído. Como quando poderia ter usado seu poder para explodir uma porta enquanto deixa Fury usar uma fita com impressão digital, pois não queria ‘atrapalhar seu momento de brilho’.

Além do próprio Yon-Rogg (Jude Law) que insiste para que ela lute com ele sem usar seus poderes, pois ela ‘não precisa’ deles, ou ‘se ela for boa mesmo o derrota sem isso’. Esse tipo de comportamento é muito comum em diversos meios. No meio nerd então, nem se fala. Se uma menina se diz gamer, por exemplo, ela precisa, constantemente, se provar como tal. Precisando mostrar quantas horas tem jogadas, mostrar conhecimento e ter opinião sobre tudo nesse quesito.

É muito comum ainda mulheres serem desencorajadas a serem ‘mais do que os homens’, especialmente em ambientes mais religiosos (na maioria das religiões). Recentemente mesmo vi um vídeo do Bispo Macedo dizendo que ‘uma mulher não deve ter um grau de instrução maior do que o de seu marido para não humilhá-lo’. ¬¬

E só pra concluir os pontos que foram criticados no filme, o fato da Carol Danvers não ser lá muito ‘carismática’, de dar poucos sorrisos, é cânone. Nos quadrinhos a personagem costuma ser mais fechada, só demonstra mais seus sentimentos para quem é bem próximo (e só ver como ela trata o Nick Fury e a pequena Monica Rambeau). Não é de ficar ‘dando sorrisinhos’ por aí. E como poderia ser assim? Além de enfrentar tudo isso que citei, de o mundo exigir tanto dela e não valorizar o que ela conseguiu (só isso já seria suficiente para ser ‘mau humorada’), ela (nem ninguém) tem obrigação de ser simpática com todo mundo.

Ninguém é. O próprio Tony Stark é um porre, um escroto na maior parte do tempo. Só que ele responde a tudo com piadinhas ácidas. Há quem realmente ache apenas engraçado, há quem se ofenda e mais importante: há quem não se importe porque é normal homens serem assim, especialmente os muito ricos. Mas uma mulher não pode ser, se não é ‘mal amada’. E Brie Larson teve uma ótima interpretação. Sim, não foi fraca, ela foi o que a personagem pede.

Assim, com todos esses pontos analisados, a conclusão que chego é que sim, a maior parte das críticas ao filme por parte dos espectadores, não da crítica especializada, se deve ao fato de esses ‘espectadores’ estarem frustrados por não ser um filme que tenha sido feito pra eles, mas sim para as meninas. Meninas mesmo, muito mais do que para mulheres. O objetivo era encantar e dar esperança às meninas.

Por mais que para os especialistas esse filme tenha sido mais fraco que outros do MCU em termos técnicos, esse objetivo de dar algo às meninas foi atingido. Minha filha e todas as meninas que conheço que assistiram curtiram, e devem ter aprendido muito com ele, mesmo que não saibam disso conscientemente.

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