Crítica | Mortal Kombat (filme 2021)

Mortal Kombat foi um dos games que mais marcaram minha infância/adolescência e até início da fase adulta. Certamente também marcou milhões de outras pessoas. Me lembro quando vi pela primeira vez um personagem ser jogado da Ponte. Foi um choque, eu devia ter um pouco menos de 10 anos e nunca tinha visto algo tão violento na vida.

Da mesma forma, o filme de 1995 é uma das obras cinematográficas mais memoráveis dessa mesma fase da infância. Quando saiu, foi um fenômeno entre a galera da minha idade e dos um poucos mais velhos. Foi a primeira adaptação de um game para o cinema de que tenho memória de ter visto. E por mais que a crítica especializada da época tenha falado muito mal do filme e a bilheteria dele não tenha sido grande coisa lá fora, aqui no Brasil nós gostamos muito.

Na verdade, dá até pra dizer que hoje em dia trata-se de um cult da sub cultura (seja lá o que isso signifique). Provavelmente, se o assistir hoje, vou achar bem fraco. Mas isso não significa que vou achar ruim, pois além do fator nostalgia, não tenho dúvida que é um filme divertido. Além do mais, como já disse, eu era muito fanboy de MK. Sabia tudo da história do game (um dos primeiros jogos de luta a se importar com esse ponto), pelo menos até o MK4. E por mais que o filme tenha se afastado bastante da história do game, ele aproveitou muitos elementos e adaptou outros fazendo funcionar bem no cinema.

O filme teve uma sequência bem ruim, ruim mesmo. Naquela época já sabíamos quão péssimo era. Quase ninguém se lembra de Mortal Kombat: Aniquilação. Pior ainda foi a série de TV Mortal Kombat: A Conquista. Você lembra disso?! Não se preocupe, quase ninguém lembra, sequer sabem da existência.

E eis que chegamos a 2021 e um novo filme de MK é lançado. Houve uma boa divulgação, uns trailers que empolgaram. Depois de uma ressurreição da franquia nos games, quando teve um reboot maravilhoso em 2011, sendo até premiado, o décimo game da franquia para a geração Playstation 4 e Xbox One levou o game de volta ao patamar que conquistou nos anos 90, conquistando toda uma nova geração de fãs e trazendo de volta os antigos. Isso fez com que esse novo filme fosse envolvido em muita expectativa.

Com mais de 20 games dentro da franquia, há muita história para se adaptar. Na verdade, é tanta história, que são várias linhas temporais, coisa de multiverso mesmo. Seu criador, Ed Boon, já disse que é tudo canônico. Tudo faz parte da história oficial, mesmo que seja em uma linha do tempo diferente. Isso inclui histórias em quadrinhos e animações. Bastava pegar qualquer coisa dessas que já fizeram sucesso e transportar para o cinema que o live action faria sucesso.

Mas é a Warner, né? Um estúdio que não sabe o que fazer com grande parte, talvez a maior parte, das suas propriedades. Vejam o que eles fazem com a DC no cinema. A proporção é de mais ou menos um acerto pra cada três erros. Não que esses três sejam totalmente ruins, mas se fossem um pouquinho menos ‘readaptados’ e minimamente mais fiéis às obras originais, ficariam muito melhores. Mas eles parece que precisam mexer na história, mudar personagens, criar plots aleatórios… Quando tudo que o público quer é: só continuem o que já estava dando certo.

Esse é um dos grandes erros do novo filme de Mortal Kombat. Mudaram demais tudo. Criaram coisas novas, misturaram a história dos games pra criar algo novo. Talvez, em teoria, isso seria interessante. Como já disse, são mais de 20 games ao longo de cerca de 30 anos. Então, é de se pensar que a galera queria ver alguma coisa diferente, não uma repetição do que já conhecem, né? Mas e se for justamente o contrário? E se a gente gosta tanto do original que quer ver a mesma coisa, só que um pouquinho mais ‘real’?

O filme começa bem. Na sequência inicial vemos Sub-Zero matar todos os últimos membros do clã rival, fazendo assim, nascer (morrer?!) seu grande nêmese: Scorpion. Promissor. Muito sangue e boas cenas de luta. Além de mostrar dois dos personagens favoritos dos jogadores logo de cara, mesmo que eles ainda não estivessem em sua forma mais famosa.

Em seguida, conhecemos um personagem aparentemente original para o filme: Cole Young (Lewis Tan). Isso é bem divisivo. Me lembro de que quando soube que haveria esse personagem no filme pensei: ‘Mas pra que diabos a Warner tá dando importância pra um personagem original do filme (já que nunca foi citado em nenhum jogo) sendo que nem é um ator famoso?’. Bem, podemos dizer que ele tem lá sua relevância na história, mas que, acredite, só se sabe sua real razão de estar ali na última cena do filme. Sério, literalmente no último frame. E você não vai gostar da explicação, pois não faz sentido algum.

É a partir daí que o filme degringola. Após um começo promissor, ele passa a apresentar muitos personagens e contar a história do que estão fazendo ali e porquê estão fazendo. É nesse momento que vem um recurso da história que mais se afasta dos games: uma tal marca que os guerreiros do Reino Terreno têm e que os leva a lutar no torneio Mortal Kombat. Só pode lutar para defender a Terra da invasão do Mundo Externo quem a tem. WHAT?!

Talvez, e apenas talvez, pra quem não sabe absolutamente nada sobre MK, isso possa fazer algum sentido. Seria uma resposta para a pergunta: ‘Tá, mas por que esse cara aí? Por que, de todos os bilhões de pessoas da Terra, justamente ele está incumbido de lutar pela nossa sobrevivência?” Mas, sinceramente, duvido.

Aí que reside um dos maiores problemas do filme (se não O maior). Nessa tentativa de agradar a um público mais abrangente, e não apenas um nicho, ele acaba não agradando ninguém. O fã de MK vai se sentir enganado e quem não conhece nada do jogo vai achar só ruim mesmo. Em determinado momento, o filme vira uma mistura bizarra de puro fã service (com falas, cenas e movimentos que só fazem sentido pra quem conhece os games, tal qual os fatalities) e sangue/violência gratuitos. Parece que tudo simplesmente para de fazer sentido.

Ou talvez tenha sido só eu mesmo que perdi totalmente o interesse. ¯_(ツ)_/¯

No fim das contas, esse novo filme de Mortal Kombat chegou prometendo, começou nos enganando, passou a causar vergonha e terminou totalmente esquecível. Por mais que o de 1995 não tenha sido nenhuma obra prima, ainda assim será lembrando pelos fãs e por quem gosta de filmes duvidosos, mas divertidos. Esse de 2021, provavelmente só não vai se juntar a MK: A Aniquilação no limbo dos filmes esquecidos pra sempre, porque ainda há todo um marketing por trás dele, recebendo destaque na HBO Max. Então mesmo quem não teve o menor interesse de vê-lo antes ou foi avisado de que era ruim, pode acabar dando uma chance pela insistência.

Se eu fosse você, nem perdia meu tempo.

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