Já sabíamos que o Multiverso seria o grande plot para essa nova fase do MCU. Já sabíamos também que a construção desse plot passaria por Loki. E isso só aumentou o hype pela série do querido anti-herói. Na minha opinião, as expectativas não apenas foram atingidas, mas ultrapassadas.
Loki é mais uma das excelentes séries da Marvel no MCU lançadas exclusivamente no Disney+. Após o sucesso estrondoso de Wandavision (23 indicações ao Emmy, tá passada?) e o não tão barulhento, mas de qualidade igualmente alta, Falcão e o Soldado Invernal, parecia difícil manter o nível ou surpreender de alguma forma. Novamente, expectativas ultrapassadas.

Enquanto a série que nos entregou (finalmente) a Feiticeira Escarlate apostou em um gênero mais puxado para a sitcom e com altas doses de mistério, e a que nos trouxe o novo (no plural?) Capitão América tinha uma pegada de ação e espionagem bem próxima da trilogia de filmes estrelados por Steve Rogers, a do Deus da Trapaça tem um estilo bem diferentão de aventura fantástica temperada com investigação.
Loki é pego pela TVA (ou AVT [Autoridade de Variância Temporal] em português) e fica nas mãos do agente Mobius (Owen Wilson). Ele interroga a variante temporal que fugiu com o Tesseract em Vingadores: Ultimato que, obviamente, não acredita nessa história de linhas temporais variantes e que existe uma agência que é responsável por manter a ‘sagrada linha do tempo’ oficial. Enquanto está nessa agência, nem Loki, nem ninguém, tem acesso aos seus poderes, quaisquer que eles sejam. Os agentes são soberanos e têm total controle sobre todo e qualquer prisioneiro/variante.
Essa descrença de Loki em Mobius, em especial o questionamento sobre o fato de ele ser um Deus e nem mesmo ele ter Livre Arbítrio (afinal, estamos falando de uma agência que está além dos poderes até mesmo dos Deuses Asgardianos!), é uma das boas discussões filosóficas/existenciais/religiosas que a série aborda.
Mas a coisa mais legal da série é essa coisa de variantes temporais. Com muita didática e até um tom lúdico, a série explica com facilidade e rapidez a ideia de linhas temporais variantes e as consequências que eles trazem se geram ramificações demais, de modo que qualquer leigo entende esse conceito tão complexo.
E então conhecemos as variantes do Loki, lembrando que o personagem principal da série é uma variante, afinal, o Loki “oficial” morreu nas mãos de Thanos no início de Guerra Infinita.
A outra principal variante é quem a TVA acredita ser a grande vilã que eles estão há muito tempo tendo dificuldade para pegar, e por isso precisam da ajuda deste Loki que Mobius recruta. Ela prefere ser chamada de Sylvie (Sophia Di Martino) e em poucos minutos entendemos toda sua trajetória e motivações.
E como todo bom Loki, não conseguimos odiá-la, muito pelo contrário. Sylvie consegue ser tão cativante e carismática quanto o irmão de Thor que conhecemos. E assim, esses três personagens centrais a série nos entregam momentos de emoção, comédia, magia e ação.
Finalmente Tom Hiddleston recebe o espaço necessário para mostrar todo seu talento e versatilidade. Em especial na cena em que Mobius mostra ‘a vida e a obra’ dele na ‘Linha do Tempo Sagrada’. Nessa cena, em uns 10 minutos Tom vai de debochado a sério e emocionado com a fluidez de um humano sensível, quase bipolar eu diria.
Esse Loki começa vilão, pois saiu direto de 2012 quando foi preso pela Vingadores e queria dominar a Terra. Logo passa a agente da TVA, mas sem deixar de ser o mentiroso trapaceiro de sempre. E em poucos episódios consegue se redimir e passar a lutar por uma causa muito maior que ele, algo impensável para ele mesmo até os eventos da invasão de Nova York que deram origem aos Vingadores.

No meio do caminho consegue se apaixonar por Sylvie (como se fosse possível não se apaixonar por ela…). E isso é mais importante do que possa parecer a princípio. Observe que Loki está comprovando seu narcisismo: ele está oficialmente apaixonado por ele mesmo! Isso é muito a cara do personagem.
Antes disso há um breve momento que é um tanto tardio mas, ainda assim, um passo importante na Marvel. Em uma conversa entre as duas variantes, Loki sutilmente admite para Sylvie que é bisexual. Nos quadrinhos ele na verdade é pansexual e gênero fluido, já tendo sido mulher e se envolvido com seres que se reconhecem com qualquer gênero. Apesar de parecer um pouco diferente no MCU, pode ser a mesma coisa no fim das contas. Só não ficou claro e, na minha opinião, não precisa ainda. Mas como não é meu lugar de fala, só acho que a breve menção disso já é um bom passo pra quem nunca havia se pronunciado a respeito. Abre precedentes.
Quanto a resolução da história, não vou dar mais spoilers, mas ela é fundamental para essa nova fase do MCU. O grande vilão foi (surpreendentemente) apresentado e a bagunça no Multiverso ficou praticamente descontrolada. Outro ponto importante, e que me pegou de surpresa, foi o final aberto deixando gancho para mais uma temporada. Afinal, eu achava que seria só uma, com história fechada e deixando gancho apenas para os filmes que tratarão da questão do Multiverso. Que bom, assim temos certeza que veremos mais de Sylvie, e quem sabe, ela até fique em definitivo no MCU…
Loki fez valer toda a espera desde que foi anunciada. Tudo que os fãs queriam, inclusive uma chuva de easter eggs, foi entregue. E fica o gostinho de quero mais. Outro acerto em cheio do MCU.