Quando anunciaram um spin off de The Boys, eu não me empolguei. Não que eu achasse que seria ruim, apenas desnecessário. Quando soube que seria sobre adolescentes em uma escola especial para os ‘supers’, eu achei até promissor, mas ao mesmo tempo perigoso. Isso foi bom, pois Gen V é excelente e me supreendeu positivamente.
A série se passa no mesmo universo de The Boys e mostra o dia a dia na Universidade Godolkin, uma faculdade dedicada exclusivamente à primeira geração de super-humanos que está totalmente ciente de que seus poderes são oriundos de um composto químico criado em laboratório e lá, eles são treinados para virarem heróis. E mais importante (pra eles): celebridades.

Dá pra definir a série como um ‘X-Men com muita violência explícita/sangue jorrando e uma boa dose de putaria’. Ainda que eu ache que ela faz bastante jus ao ‘nível The Boys de explicitação’, acho ela mais fácil de digerir de modo geral. E mais: ela deixa bem claro como será desde o primeiro episódio. Se você consegue aturar o que acontece ali, o restante da temporada será de boa.
Contudo, assim como a série principal, Gen V não se apoia apenas na apelação. Sua história é realmente boa. A princípio, ela dá a impressão de que será um tanto fútil, bem X-Men dos quadrinhos no que diz respeito a dramas adolescentes, só que bem mais vazios, já que estamos falando da Geração Z (o trocadilho com Gen V é intencional).
Ao longo da temporada, esses dramas adolescentes até que continuam, mas dão espaço para discussões mais profundas e tramas mais interessantes. Há quem diga que ela já é melhor que The Boys. Eu diria que é tão boa quanto, mas diferente em alguns aspectos.
Ela se passa exatamete onde estamos após a terceira temporada de sua série ‘mãe’. Então, muito é citado. Se você não a acompanha, pode ficar um tanto perdido na reta final. Não me lembro de ter assistido a um outro spin off que se conectasse tão bem à série principal.
Um dos grandes méritos de Gen V é conseguir dar espaço para tudo que a geração Z tem como hábitos e, mais ainda, como pautas e bandeiras. As dicussões pertinentes a esse grupo social e aos tempos onde vivemos, estão lá. E, obviamente, eles são caricaturizados e potencializados ao absurdo.
E nada, pelo menos a mim, pareceu forçado demais, é tudo realmente orgânico e quando não, fica claro (a todos de bom senso, lógico) que se trata de uma sátira. Só pra ilustrar, a protagonista super carismática é Marie Moreau (muito bem interpretada pela talentosa Jaz Sinclair), uma mulher negra que não pertence ao mesmo nível social de praticamente todos os alunos da universidade.

Ela acaba se envolvendo com Jordan Lee (London Thor / Derek Luh), um personagem gênero fluído feito com muita naturalidade, afinal, parte dos poderes é transitar entre uma mulher e um homem. E essa é uma pessoa de etnia asiática.
E aqui uma opinião: quando é mulher é muito melhor interpretada, a atriz é mais talentosa e natural que o ator. E uma crítica: faltaram cenas onde Marie interage de forma romântica com a Jordan enquanto menina, pois todas as vezes em que o faz, é com o menino. Se a ideia é tratar com naturalidade essa questão, faltou (aparentemente) um pouco de coragem para bancar essa relação. Acho até estranho, já que ambas as séries não têm medo de mostrar absolutamente nada em cena.
Todos os outros personagens que são do núcleo principal são muito bem utilizados, têm bastante relevância e vão ganhando profundidade ao longo da temporada. É difícil até destacar um, já que todos têm seus momentos.

Inclusive a participação do ator brasileiro Marco Pigossi foi bem interessante. Seu personagem tem relevância para história e dá chance do ator mostrar um pouco de seu talento. Torço para que ele ganhe cada vez mais oportunidades e papéis relevantes.
Os efeitos especiais estão bem no mesmo nível de The Boys, nada muito impressionante, nada que comprometa também. Quando não estão tão críveis, acabam até combinando com o tom da série, escrachado e caricato.
A trilha sonora também é bem interessante, assim como na série principal. Aqui há uma repaginada nas músicas, talvez pra aproximar os clássicos para essa geração a qual ela retrata.
Uma coisa que me agradou muito foi a criatividade e escolhas da direção dos episódios. Não quero estragar possíveis surpresas, mas me parece que alguém ali não apenas assistiu, mas gostou bastante de Community, pois tem uns momentos um tanto ‘viajados’ que me pareceram até referência, assim como a outras obras, é só que esse caso me chamou mais atenção.
O mais interessantes é como o roteiro vai crescendo ao longo da temporada. Conforme a trama vai se desenvolvendo, os personagens vão ganhando espaço e relevância, as participações especiais são pontuais e não são meramente cameos. E há alguns plot twists muito bem feitos. Surpreendem, fazem sentido e dão bons ganchos para o futuro.

Gen V entrega bem mais do que prometia. Ela te prende, choca e emociona. Se é melhor que The Boys ou tão boa quanto, é uma questão de opinião. O fato é que se você gastou da primeira, vai gostar desse spin off com toda certeza.