Quando Hollywood decide rir de si mesma, o resultado pode ser muito bom ou muito ruim, sem meio termo. O Estúdio, série da Apple TV+ criada por Seth Rogen e Evan Goldberg, consegue acertar: coloca um espelho diante da indústria cinematográfica e mostra, com muito humor ácido, o lado nada glamouroso dos bastidores. E o resultado é uma comédia (surpreendentemente) inteligente, sagaz e cheia de momentos que nos fazem pensar enquanto rimos.

A trama acompanha Matt Remick (Seth Rogen), o novo chefe do Continental Studios, um estúdio em crise que precisa desesperadamente se reinventar. Só que Matt é um apaixonado por cinema de verdade, daqueles que ainda acreditam no poder da arte — o que bate de frente com executivos que só querem franquias, bilheterias milionárias e produtos que vendam bonequinhos. A cada episódio, vemos esse conflito entre criatividade e mercado se desenrolar em situações hilárias e desconfortáveis, que vão de reuniões de roteiristas a tapetes vermelhos.
E se o enredo já é divertido, o elenco eleva tudo a outro nível. Catherine O’Hara (que já brilhou recentemente em Schitt’s Creek) e Kathryn Hahn (a maravilhosa e perfeita Agatha do MCU) brilham com atuações impecáveis, trazendo carisma e timing cômico que roubam cena em vários momentos.

O elenco é muito bom, mas as participações especiais de nomes como Martin Scorsese (sim! Atuando! Inclusive foi indicado ao Emmy por melhor ator convidado), Zac Efron, Zöe Kravitz Bryan Cranston (esse venceu o Emmy de melhor convidado), dentre outros, todos brincando com suas próprias imagens, fazem da série um prato cheio para quem gosta de referências pop e autossátira.
Em termos de estilo, dá pra pensar em 30 Rock e Entourage, mas com uma pegada mais atual e crítica. O Estúdio prefere rir das falhas do sistema do que romantizar Hollywood. E nesse ponto, lembra até Succession: o humor aqui não vem só de piadas, mas da tensão constante, da ironia e da sensação de que o poder corporativo sempre atropela a arte.
Não à toa, a série já chegou conquistando a crítica: 100% de aprovação no Rotten Tomatoes, uma enxurrada de elogios ao roteiro e ao elenco, e nada menos que 13 Emmys em 2025, incluindo Melhor Série de Comédia e Melhor Ator para Seth Rogen. Um feito histórico que mostra como a série não é só engraçada — é relevante, ousada e necessária.

Sim, Seth Rogen ganhou um prêmio por atuação! Não é impressionante? E ele realmente manda bem, bastante convincente, mesmo sem ser muito diferente do que estamos acostumados a vê-lo fazer. E isso é muito irônico quando se assiste a série, já que seu personagem tanto queria ser reconhecido por seu trabalho.
Um dos recursos mais interessantes da série é o uso criativo do plano sequência, que aparece tanto como ferramenta narrativa quanto como metalinguagem. Há episódios inteiros filmados quase sem cortes aparentes, o que coloca o espectador dentro do caos dos bastidores — correndo de sala em sala, lidando com crises, gritos e decisões tomadas no calor do momento. Esse movimento contínuo reforça a sensação de descontrole e urgência que domina o estúdio, mas também funciona como um comentário sobre o próprio ato de filmar: uma indústria que finge ter tudo sob controle enquanto, nos bastidores, tudo está prestes a desabar.
No fim das contas, O Estúdio é mais do que uma sátira sobre Hollywood. É um comentário afiado sobre o mundo do entretenimento de hoje, onde tudo precisa ser “franquia”, “IP (propriedade intelectual)” e “bilheteria global”, mas ainda existe gente tentando fazer cinema por amor à arte. E é justamente nesse contraste que a série encontra sua força, equilibrando humor e crítica de um jeito que poucas produções conseguem.