Crítica | Caça-Fantasmas (2016)

De uns anos pra cá muitos remakes de clássicos não tão antigos tem sido feitos. Muitos deles tentam atualizar alguma franquia e talvez até corrigir algumas questões culturais, raciais, de gênero ou piadas que hoje em dia não seriam consideradas adequadas. Porém, na maioria das vezes esses remakes são massacrados pela crítica e poucos são bem aceitos pelo público. Em 2016, por exemplo, foi lançado Caça-Fantasmas, que não escapou dessa regra.

Nessa nova versão do clássico dos anos 80, quem compõe a equipe que combate ameaças sobrenaturais são mulheres. E mais: quem faz o papel que seria a secretária-gostosona-burra é um homem, Chris Hemsworth.

É bem verdade que todos esses personagens são absolutamente estereotipados. Kristen Wiig interpreta Erin, que é uma professora universitária de Física que busca ser reconhecida em sua carreira e é sempre diminuída, muito por ser mulher em um ambiente altamente machista. Erin é engraçada sem querer e é quase uma caricatura de uma solteirona.

Melissa McCarthy é Abby, amiga de longa data de Erin que é uma ~cientista. Ela é muito sagaz e focada no trabalho, sem ser chata, é até muito bem humorada. Kate McKinnon é Jillian Holtzmann, mais conhecida como Holtz. Ela é a engenheira da equipe e tem um humor e gostos ‘peculiares’.

Elas acabam se unindo a Patty, interpretada por Leslie Jones, que trabalhava no metrô de NYC mas passa a fazer parte da equipe mesmo sem as mesmas qualificações acadêmicas de suas colegas. Patty é claramente aquela personagem negra que está ali para ser um alívio cômico mais óbvio.

Como podemos ver, há uma mistura entre representação e estereótipos antiquados. Na tentativa de mesclar e ser mais abrangente, o filme fica em um desconfortável meio do caminho. Contudo, provavelmente esse é o único pecado aqui.

Essa equipe acaba por acaso se tornando as Caça-Fantasmas que atuam em Nova York e precisam se provar competentes e necessárias. São quase como o Homem-Aranha: a mídia começa as massacrando e colocando contra a opinião pública, mas o povo acaba as idolatrando, além da parte de não ganharem nada em troca e criarem seus próprios gadgets.

Por essas razões, elas acabam criando uma conexão com o espectador. E as personagens são bem carismáticas. As piadas variam entre fáceis (e por vezes clichê) e mais elaboradas e algumas vezes bem no limite antes de se tornarem pesadas. Mas é um bom tom, conseguem acertar nesse ponto delicado.

Todas as personagens acabam se mostrando muito bad-asses em algum momento e é bem legal ver mulheres fazendo personagens assim. Já vimos várias, é verdade, mas não há tantas atualmente, especialmente com esse tom mais divertido e que possam apelar para um público mais infanto-juvenil.

Há muitos (muitos mesmo) easter eggs para quem é mais velho e conhece os filmes (e desenho) antigos da franquia. Todos os principais atores (e até personagens) que já apareceram nos originais fazem algum cameo que ficam até bem encaixados.

A história é simples se desenvolve bem, os efeitos especiais estão muito competentes, não me lembro de nenhum momento onde deixam a desejar. A trilha sonora está caprichada e conta com pelo menos uma meia dúzia de versões para a música clássica Ghostbuster de Ray Parker Jr. Todas elas boas, em estilos variados.

As atuações estão impecáveis. Melissa McCarthy dispensa apresentações e arrebenta em qualquer coisa que faça. Todas as outras atrizes não deixam nada a desejar e seguram bem a onda e acertam no tom, mesmo quando estão cumprindo o estereótipo. A surpresa fica por Chris Hemsworth, que se sai bem em um papel puramente cômico. Se ele não chega a ser brilhante, também não compromete.

No fim das contas, Caça-Fantasmas cumpre bem seu papel de entreter e divertir e faz jus aos seus antecessores, mostrando que é possível fazer remakes sem destruir/desonrar os originais.

Considerando que assisti com minha filha de 8 anos, acho que é o tipo de filme que por mais que haters achem desnecessário, se prova válido. Ela ainda está começando a assistir filmes que possam ser um pouco mais ‘assustadores’ mas próprios para o público infantil (animações do Tim Burton, Casa Monstro, etc). E esse cai muito bem para o público mais ou menos nessa faixa etária, além de ser legal por ser todo do ponto de vista feminino, mesmo que estereotipado, pois acaba a aproximando das personagens.

Há uma continuação prevista e espero que consigam aprimorar os pequenos defeitos na construção/desenvolvimento das personagens e acertar em definitivo no tom, assumindo-se para um público mais novo. Acredito que seja pra isso que sirva um remake desse tipo.

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