A primeira temporada de Modern Love me surpreendeu muito. Comecei assistindo apenas por curiosidade e acabei curtindo bastante. E isso acabou jogando altas expectativas para a segunda. Não dá pra dizer que essas expectativas foram superadas, mas dá pra dizer que foram atingidas.

É bem verdade que o elemento surpresa não existe mais, mas isso não significa que a série não traz nada novo.

Pra quem não sabe, Modern Love é uma série em formato de antologia, onde cada episódio conta uma história diferente e não tem conexão alguma com o outro. Bem, na primeira temporada houve um episódio que mostrava conexão com os outros. Nada demais, quase um easter egg. Mas (semi-spoiler) isso não acontece na segunda.

Pelo que me lembro, na primeira temporada havia um tom de comédia romântica na maior parte do tempo. Até mesmo no melhor episódio de todos que é o da Anne Hathaway, que descamba pro drama forte, há seus bons momentos de comédia.

Dessa vez, não. Apenas um episódio tem um tom um pouco mais engraçadinho. E curiosamente é o que tem como pano de fundo a pandemia. Isso é muito interessante, essa coisa de tratar do assunto mais sério e em evidência dos últimos dois anos de forma mais leve e natural. No episódio, vemos o personagem de Kit Harington (o eterno Jon Snow) e o de Lucy Boynton se conhecendo em um trem na Irlanda e se apaixonando. Eles não trocam redes sociais, telefone ou qualquer outro tipo de contato, prometendo se encontrar na estação dali duas semanas, quando acreditavam que o isolamento social terminaria. E então o Covid acontece e o resto é história.

Há uma clara inspiração no filme Antes do Amanhecer, que inclusive é mencionado no episódio. E a história faz jus. É um ótimo episódio. Aliás, o episódio inteiro tem muitas referências a outras obras, incluindo uma piadinha com o fato de a personagem de Lucy ser uma medievalista, relacionando isso com Game of Thrones e logo em seguida focando em Kit.

Fora esse episódio, todos os outros são muito mais dramas (nada tão pesado) do que comédia romântica. São histórias que nos fazem refletir, sentir e trabalhar nossa empatia. Há também um episódio que mostra uma condição incomum de uma forma realista e sem romantizar (assim como o já citado episódio da outra temporada).

Outra observação interessante é que nesta temporada há ainda mais representatividade, com um casal de homens gays (sendo um deles negro) protagonizando um episódio novamente, uma adolescente tentando se descobrir gay ou não (sendo talvez até assexual), um casal mais velho, entre outros.

Normalmente são poucos personagens, o que faz as tramas se desenvolverem com mais profundidade mesmo com episódios curtos, de no máximo 30 minutos, que de tão intensos, parecem ter pelo menos uma hora. Mas sem se arrastar, tudo acontece num ótimo tempo.

Outro ponto que importante de citar, e que pode dividir opiniões, é que há mais de um episódio (talvez a maioria) que tem final aberto, de forma que não sabemos exatamente como aquela história ‘terminou’. Particularmente, eu adoro esse tipo de final e nessa série, que mostra histórias reais (e quase sempre até mais comuns do que se pensa), esse recurso se encaixa perfeitamente. Afinal, assim é a vida: contínua, quase sempre os finais (quando existem) não são felizes ou como se planeja. Além do mais, gosta dessa coisa de deixar pra imaginação, trabalhar a criatividade de cada um, misturada com as experiências e expectativas próprias.

É possível que, caso você tenha assistido (ou ainda vá assistir) a primeira temporada, ache que ela tenha sido melhor que essa segunda. Na minha opinião, ela foi apenas diferente. Mas tão boa quanto, só perdendo o elemento surpresa como eu já havia dito. Continuo recomendando muito.