Desde que anunciaram o elenco de crianças que daria vida aos personagens mais icônicos dos quadrinhos brasileiros, a Turma da Mônica, eu já me apaixonei por aquelas crianças. Já se passaram 5 anos desde então e esse amor só cresce.
Turma da Mônica: Lições, o segundo filme live action dos personagens criados por Maurício de Sousa, entrega tudo aquilo que talvez tenha faltado ao seu antecessor. Se no primeiro filme o foco é conhecer melhor aquelas versões dos personagens e do mundo em que eles vivem, enquanto os acompanhamos em uma aventura, agora vemos esses personagens e o mundo evoluindo, crescendo e nos emocionando ainda mais. Muito mais.
Quando assisti ao primeiro filme e falei sobre ele no Capacitor, eu comentei que ele me fez lembrar bastante de Os Goonies. E possivelmente essa foi mesmo uma das inspirações para os roteiristas e o diretor Daniel Rezende, mas era mais implícito, só uma referência mesmo.
Agora, a inspiração é tão clara que é utilizada como pano de fundo na história: Romeu e Julieta. Obviamente, é apenas uma inspiração, não espere todo aquele romance e tragédia. Porém, pode esperar emoção, e se você se permitir e se entregar à história, é bem provável até que chore.
A história é a seguinte: após passarem tempo demais ensaiando para uma adaptação de Romeu e Julieta que apresentarão no Festival do Limoeiro, a turminha esquece de fazer a lição de casa. Cebolinha então bola um plano infalível – fugir da escola, fazer a lição na praça e depois voltar à escola. Um a um, as crianças acabam topando e na fuga Mônica cai e quebra o braço.

Os pais são chamados na escola e após quererem encontrar um culpado pelo comportamento das crianças, acabam decidindo por afastá-las um pouco, pois estão passando muito tempo juntas desde sempre e podem estar sendo más influências. Os de Cebolinha e Mônica, eventualmente, acabam brigando com mais veemência e resolvem afastas os amigos de vez um do outro, os proibindo de se verem.
Em uma nova escola, Mônica está deprimida e sente falta dos amigos, não conseguindo fazer novos (como seus pais praticamente a obrigaram a fazer). Cebolinha, Magali e Cascão também não estão passando por bons momentos na escola onde ficaram sem sua melhor amiga e líder.
Aí entra um dos pontos mais interessantes da história, que talvez o primeiro filme não tenha tido tempo ou mesmo oportunidade de desenvolver: as questões sociais e psicológicas dessas crianças e do mundo em que vivem.

Temas como bullying, que sempre permeou as histórias da turminha nos quadrinhos e que evoluiu conforme os tempos também foram tratando o assunto com a seriedade devida, estão presentes mesmo que com alguma sutileza e bastante naturalidade.
Não apenas isso. Achei muito legal (e importante) tratarem da questão da comilança da Magali como ansiedade. Transtornos alimentares são uma realidade para muita gente, e quando isso vem de uma criança, é muito comum os pais não se atentarem da forma adequada. O filme aborda isso bem.
Já o medo de água do Cascão, é uma fobia, não é ‘porcaria’ ou qualquer outra bobagem que se resolva com ‘uma boa coça’, ou jogando na água, dando banho à força, ou sei lá mais o quê. Precisa, sim, ser enfrentado, mas com cuidado e acompanhamento.
Por fim, até mesmo a língua presa de Cebolinha é abordada. Algo como ‘já passou da hora desse moleque aprender a falar direito’. Mas os pais agem corretamente e o colocam para tratar com uma fonoaudióloga, tudo no tempo certo e sem pressão.
Isso sem falar no body shaming com altura, peso e dentes da Mônica (que não me lembro de ser citado no outro filme, mas agora é até natural que aconteça pela idade em que eles estão), os valentões que incomodam tanto o Cebolinha como a Mônica e outras questões.
Deixando um pouco de lado esses pontos, a história em si é muito emocionante. É algo que todos nós podemos encontrar identificação, pois provavelmente já passamos por coisa parecida. E provavelmente passaremos novamente, estando do outro lado (seja como pais ou professores, ou até ambos). Só não se emociona quem já não tem mais coração.

Falando dos aspectos mais técnicos do filme, o trabalho de direção de arte está fantástico novamente. Tenho a impressão de que em Laços os cenários e figurinos eram mais ‘fantasiosos’, lúdicos, fazendo com que comprássemos a ideia de que aquele mundo é uma fantasia que emula e amplia a realidade. Agora, ainda há essa sensação, mas por alguma razão parece um pouco mais mesclada com a realidade, talvez pelos assuntos tratados e uma coisa leva a outra.
Pra quem cresceu lendo os gibis da Mônica, e especialmente pra quem curtiu o primeiro filme, esse segundo é um grande upgrade. Inclusive, mesmo quem não gostou ou não viu Laços, pode ver esse (e curtir) tranquilamente.
As atuações continuam ótimas. Na verdade, como era de se esperar, ainda melhores. Afinal, as crianças agora estão mais experientes e bem preparadas. O carisma continua lá no alto. Esses atores sabem da importância dos seus personagem, compram a ideia e nem parecem sentir esse peso.
Nem preciso comentar sobre a Giulia, que interpreta a Mônica. O sorriso dessa menina é daqueles que iluminam e encantam. Ela é ótima. Continua sendo uma escolha excelente para uma personagem tão icônica e importante na nossa cultura pop.

O Cascão é um dos meus favoritos nos gibis, e o Gabriel que dá vida a ele, ainda pode ser um pouco mais zueiro, esperto, sapeca. Não fica devendo, mas cabe mais. Ah, notei que a maquiagem agora o deixou um pouco mais sujinho. É sutil, mas é legal ver essa fidelidade.
O Kevin ainda precisa achar o melhor tom pro Cebolinha, acho que ele é o que tem que ser mais trabalhado se continuar na carreira. Mas ninguém supera a Laura, que entrega uma Magali provavelmente até melhor que a dos gibis, o que não é nada fácil!
Que menina talentosa, natural e engraçada! Ela convence muito em todas as nuances que a personagem pede, desde as expressões faciais e corporais até ao choro. Sinto que se ela quiser continuar sendo atriz, tem potencial para uma carreira parecida com a da Isabelle Drummond.
Aliás, já que a citei, a participação da atriz como Tina é muito boa e importante para a trama. Gostei muito dessa adaptação e função da personagem. Outra participação, ainda menor, mas também importante, é a de Malu Mader. Ela é a professora da Mônica na nova escola e tem muita importância na sua adaptação por lá.
Além dele, outros personagens, alguns mais clássicos, outros mais ‘obscuros’ das histórias em quadrinhos, aparecem no filme e até têm bom destaque. Franjinha, Rolo, Pipa, Zecão, Do Contra, Nimbus, Marina, Humberto, Milena, Tonhão… Até mesmo na cena pós-crédito temos uma surpresa, que deixa a entender que voltará em um possível terceiro filme.
Falando nisso, eu adoraria mais um filme ambientado nesse mundo. Porém, esbarramos no ‘problema’ das crianças crescendo. Então, a não ser que esse filme já esteja em produção, não sei se caberá mais um filme com eles ‘crianças’, até porque nesse filme eles já não estão mais na mesma fase dos gibis clássicos. Talvez coubesse uma transição para a Turma da Mônica Jovem…
E se é pra imaginar, perfeito mesmo seria um ‘Monicaverso’. Esses atores continuariam a saga que começaram no cinema, adaptando talvez mais uma história das Graphic Novels MSP e migrando para a Turma da Mônica Jovem. Aí, poderiam criar uma série em um streaming com novas crianças vivendo as aventuras da turminha mais clássica, em episódios em formato de antologia, não necessariamente seguindo um único plot. Em algum momento poderia haver um crossover, não sei.
E vou ainda mais longe: quero histórias com o Astronauta, com o Penadinho, Bidu (aqui uma animação, talvez?), toda a turma da roça com o Chico Bento, Piteco, Horácio… Material pra essas histórias não falta!
Só sei que quero que essa franquia cresça cada vez mais. Eu amo esses personagens e essas crianças ainda podem entregar muito mais. Se o Daniel Rezende quiser e puder, ele também pode continuar nos emocionando e divertindo contando essas histórias.
Concluo recomendando Turma da Mônica: Lições para todos aqueles que amam a turminha, tenham ou não assistido (e/ou gostado) ao primeiro filme, até porque não precisa ter assistido para entender esse. É um filme que honra ainda mais esse que é um dos mais importantes produtos da cultura pop brasileira. É divertido e emocionante. E ainda nos ensina muita coisa, como o título sugere. Afinal, Turma da Mônica sempre nos ensinou muitas lições.