Nos últimos, sei lá, 10 anos, você lembra de ter assistido uma animação Disney/Pixar ruim? Não vale as que você achou ‘fraca’, no sentido de ‘poderia ter sido melhor’ ou mesmo ‘esperava mais’. Eu digo ruim mesmo, do nível ‘perdi meu tempo’. Duvido! E Red: Crescer é uma Fera mantém essa escrita.

Fora esse subtítulo que colocaram em PT-BR, que eu acho nada a ver (gente ‘Crescer é uma Fera’… Sério?! Quem diz isso?!), não saberia apontar um defeitinho sequer, nenhum ‘problema’ no filme. Ele é todo redondinho, divertido, tem aquele ensinamento que normalmente animações têm, mostra um pouquinho de culturas diferentes, tem representatividade… Segue bem a tal fórmula Disney que nunca falha.
O filme conta a história de Mei Lee (ou Mei-Mei, como é mais chamada na história). Ela é uma menina de 13 anos que é muito inteligente, uma aluna dedicada e uma filha exemplar. Sendo descendente de japonesas, tem uma educação rígida e coloca a família acima de tudo, inclusive dos próprios interesses.
Na história, Ming é a mãe de Mei-Mei é super rigorosa com a filha, mesmo a menina sendo ‘a filha perfeita’ segundo sua concepção. Já o pai, Jin, é muito mais de boa, inclusive passa praticamente o filme todo sendo submisso, quase nulo.

A família administra o maior templo de cultura japonesa da cidade e mostra não apenas a tradição de seu povo em geral, mas especialmente da própria família, que sempre foi muito tradicional e tem um legado especial para as mulheres, sempre muito poderosas.
Como a família Lee vive em Toronto e a história se passa em 2002, dá pra conhecer um pouco sobre a cultura japonesa, sobre a cidade canadense e sobre essa época, que para o público alvo é muito distante mas para quem é da minha geração, é a fase da adolescência (mais ou menos a da protagonista da história), podendo até servir como nostalgia.
Portanto, o filme é muito fácil de se identificar em diversos aspectos e para diversos públicos. Eu lembrei de quando eu tinha a idade de Mei-Mei e também passava por esse momento de transição na vida em geral, mas em especial pelo fato de também ser muito inteligente, nerd, e viver uma educação mais rígida. As diferenças são, obviamente a realidade local, a época (eu tive 13 anos em 97, 5 anos fazem bastante diferença nessa época), eu não sou descendente de japoneses (muito mais rígidos) e, principalmente, não sou menina.
E aí que entra um diferencial do filme: ele é do ponto de vista feminino, onde praticamente toda equipe criativa é formada por mulheres. E vale reforçar que Mei-Mei tem 13 anos, então está bem na idade onde as meninas passam por todas as mudanças ocasionadas pelos hormônios.
Inclusive esse é um dos principais pontos do filme, serve como uma grande alegoria para essas mudanças na vida dos adolescentes em geral, mas especialmente das meninas. Sendo muito bem explorado de forma sutil em certos momentos e em outros bem explicitamente. Por isso, como eu disse antes, é muito fácil se identificar com o filme, mas as meninas em idade próximas de Mei-Mei (ou que já passaram por ela) vão ter uma relação especial.
É curioso como tem sido uma tendência em animações recentes essa questão do ponto de vista de uma menina adolescente mostrando os confrontos da idade, de ser considerada ‘diferente’ e com questões familiares pertinentes de serem discutidas. Só nos últimos meses posso citar Encanto e A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas (aliás, ainda preciso escrever sobre esse, mas já fica a recomendação). Mas não é reclamação, pelo contrário. Pode mandar mais que tô curtindo!
Não quero dar muitos detalhes da história, mas quero ressaltar que em termos técnicos, a animação é sensacional. É impressionante como as técnicas de animação estão se aprimorando de forma exponencial e nesse filme vemos um estilo de animação bem diferente do que estamos acostumados e que é muito bom.
Uma coisa que me chamou atenção foi a questão das expressões faciais muito marcantes, se aproximando muito do que os animes fazem, aqueles exageros cartunescos que são muito divertidos e fazem toda a diferença na narrativa. As amigas de Mei-Mei e a própria protagonista deixam isso bem claro. Aliás, as amigas são uma diversão à parte. Eu assistiria uma série spin off dessas meninas na escola tranquilamente. Alô, Disney+, bora providenciar?
Recomendo o filme a todos, em especial às famílias com meninas em idade próxima a 13 anos. Um filme divertido e emocionante na medida certa e que tem aquelas lições sobre família e amizade tão clichês, mas que adoramos e que sempre valem a pena ver renovadas.