Dia desses a Netflix me mostrou o trailer de um filme original deles estrelado por Jake Gyllenhaal. Só por isso já teria minha atenção. Difícil achar alguma coisa ruim com ele. Então, no trailer vimos que a história parece relativamente simples e se passa, basicamente, em apenas um cenário. Apenas 1:30h de duração. Me convenceu. Hoje eu assisti e, olha, que filme!
Como disse, a ideia é bem simples: contando com pouquíssimas pistas, um operador de chamadas de emergência tenta salvar a vida uma mulher desesperada. O operador em questão é Joe (Gyllenhaal), que desde o princípio deixa o espectador ciente de que é um policial que está cumprindo algum tipo de punição, uma medida disciplinar, e está afastado das ruas fazendo o trabalho burocrático de atender às ligações do 911. Além disso, vemos que ele tem alguma condição, talvez pisciológica, como problemas para controlar a raiva, ou talvez abuso de remédios. Possivelmente causados por um trauma. Mas isso é tudo que sabemos dele até, literalmente, as últimas cenas do filme.

O que quer que tenha acontecido com Joe que o tenha levado até ali, é irrelevante até que se torne relevante. O que faz do filme digno de recomendação (e da sua atenção), é o fato de que, por mais que provavelmente não quisesse estar ali, Joe entende a importância do seu trabalho e quer o fazer bem, ele quer ajudar as pessoas. E para isso, está disposto a ir além do que se espera dele naquela posição, talvez até mesmo a fazer mais do que deveria fazer.
A história começa numa noite muita complicada em Los Angeles, durante o tradicional período de queimadas. As chamadas para o 911 são intermináveis e a cidade parece um caos ainda maior do que normalmente já é. Então ele recebe uma chamada de uma mulher que parece em situação de perigo e não pode falar muito para não entregar que está ligando para a polícia. Mas usando todo o seu talento de policial treinado e sua sede quase desesperada por ajudar alguém, ele faz de tudo para descobrir o que está acontecendo e achar uma forma de ajudar aquela mulher.
Aos poucos vamos conhecendo um pouquinho (bem pouquinho) dos próprios problemas de Joe. Ao mesmo tempo, a situação com a tal mulher (que se chama Emily) vai ficando cada vez mais tensa (e intensa). Ela parece estar sob custódia de um homem violento, aparentemente seu marido e ambos estão em movimento, em um carro. Isso torna muito mais difícil para Joe conseguir ajuda para ela, afinal, além de ser complicado identificar onde ela está (já que ela não pode dar muitas pistas para que o homem não desconfie), a cidade está (literalmente) pegando fogo e não dá para mobilizar uma força poilicial sem nada concreto. Como fator agravante, eles têm filhos que estão sozinhos em casa.
Brilhantemente, Joe consegue entrar em contato com a filha de Emily, chamada Abby. Da mesma forma, ele consegue movimentar amigos no departamento tanto para ir ao encontro das crianças, como para tentar encontrar e ajudar Emily. Isso tudo, sem muito apoio, pois está difícil conseguir policiais disponíveis e por ele estar meio que quebrando as regras ali. Sem falar que a história vai avançando madrugada a dentro.
Contar mais a partir daí seria dar spoilers e um dos principais recursos narrativos neste filme é o fator surpresa. Mas não se engane, o filme não se apoia nisso. É apenas um recurso, que muda tudo, é verdade, mas não é a melhor coisa do filme. Nesse caso, o que faz dele excelente, é a atuação de Jake. Eu diria que 90% do tempo a câmera está em seu rosto. E a história se passa em basicamente 3 cenários: nas salas onde ele trabalha e no banheiro do departamento. Além de um breve momento onde é mostrada a câmera de um carro de polícia que para uma van suspeita de ter o casal ‘em fuga’. Ah, também vemos cenas da cidade em chamas nas notícias da TV à frente de Joe.

Deve ter sido um filme de baixíssimo orçamento. Depois que assisti, vi na internet que ele foi gravado em 11 dias durante a pandemia. Então, o que segura o espectador diante da tela é a absurda atuação de Jake. Na minha opinião, digna de Oscar. Claro que há muita coisa a se ver ainda até a temporada de premiações, mas ele precisa ser pelo menos inidicado, e provavelmente será um forte candidato, sim. Ah, apenas um outro fato curioso que eu também só descobri depois de ter assistido: algumas das vozes nas ligações são de atores famosos, mas como só vemos o rosto do protagonista, deve ser divertido tentar descobrir quem são os atores pelas vozes.
É claro que filmes são experiências únicas e pessoais, mas é diíficil não se sentir na pel de Joe, ter empatia por ele mesmo sem o conhecer e entender sua motivação, pois é essa mesmo a ideia. Ver tudo pelo seu ponto de vista, sentindo toda a tensão que ele sente, toda a dor que seu trabalho lhe causa. Pra mim, foi uma experiência muito intensa e pesada. Quando vêm os plot twists (sim, são dois), muda tudo e você consegue sentir a mistura de sentimentos do protagonista.
O Culpado é um filme que vai te prender diante da tela e vai te deixar nervoso, ansioso. Jake Gyllenhaal, caso ainda não o tenha feito, vai te conquistar e você vai bater palmas pra ele. Vale muito assistir.