Recomendação | Legends of Tomorrow

Comecei a acompanhar o chamado Arrowverse pela série que deu origem a ele: Arrow. Não lembro exatamente quando, mas acho que a série estava na segunda temporada quando comecei a primeira. E achei bem boa.

Logo veio The Flash. Comecei a acompanhar também e gostei tanto quanto, talvez até mais. Era bem diferente. Se o Arrow era uma versão ‘baixa renda’ do Batman, The Flash era do Superman.

A CW ainda tentava fazer um universo de super-heróis da DC darem certo, e estava num bom caminho. Aí estreou a série da Supergirl no canal CBS. Ficou apenas uma temporada por lá, mas quando seria cancelada, passou para o mesmo canal de Arrow e Flash, passando a fazer parte do mesmo universo.

Foi então que surgiram as Lendas. Com personagens que saíram das séries de Arrow e The Flash, formaram uma nova equipe que viajaria pelo tempo protegendo a humanidade de um vilão imortal.

Assim como aconteceu com Flash, que primeiro apareceu na série do Arrow e depois ganhou sua própria série, as Lendas foram recrutadas na série do Arqueiro.

O grupo era absolutamente improvável, constituído por heróis basicamente de segundo escalão, anti-heróis e vilões. E como se tratava de uma equipe que não existe nos quadrinhos, a desconfiança era grande por parte do público.

Primeira formação da equipe

Eu mesmo vi o primeiro episódio e passei muito tempo sem a menor vontade de assistir a série. Só assistia quando ‘era obrigado’ pra conseguir acompanhar os crossovers que passaram a acontecer anualmente envolvendo as 4 séries do universo DC no canal CW, que fora apelidado de Arroweverse.

Ok, a participação deles nos crossovers eram boas, mas a série deles me parecia tosca demais. Assim como eu também não tinha o menor interesse em Supergirl, que parecia mais um Power Rangers dos tempos atuais (mas não de um jeito legal).

Aí, depois que assisti ao mega crossover Crise nas Infinitas Terras, me interessei em ver Raio Negro, como já disse aqui. Devorei, achei incrível. Só que nada da quarentena acabar e eu não estava muito a fim de voltar pro Arrow (atrasado) e já havia feito uma pequena maratona de Flash (mas ainda não concluí a última temporada disponível na Netflix, e nem queria naquele momento). Supergirl não convenceu a optar por ela. Resolvi dar uma chance para as Lendas.

E olha, num é que foi legal? A série tem sido uma dose muito alta de tosqueira, mas eles abraçam isso. Algumas vezes pretendem se levar a sério, mas a partir da segunda temporada, parece que os produtores entendem que o diferencial deles é a bizarrice e a comédia. E isso feito com cuidado pode ser muito divertido. E eles conseguem ser.

A primeira temporada e apenas ok, não sendo excelente em nenhum ponto. Mas pelo menos não é ruim de fato. A segunda, no entanto, é ótima. Nessa temporada, a série embarca na ideia de fazer referência a diversos elementos da cultura pop desde música até (e especialmente) a filmes, com ênfase maior a metalinguagem, com foco na DC.

Também na segunda temporada, temos os melhores vilões. Uma aliança entre vilões ‘reciclados’ de outras séries do Arrowverse é formada: o Flash Reverso, Damien Darhk e Malcom Merlyn logo são apelidados de Legião do Mal (referência à um grupo de vilões unidos que se torna inimigo dos Super Amigos, a Liga da Justiça em desenho animado dos anos 70/80).

A Legião do Mal, ainda sem o quarto elemento (spoiler safe)

Além das boa motivações dos vilões, todos os personagens da série começam a ganhar camadas, tornando a trama muito mais interessante de se acompanhar. E com mais espaço para o crescimento dos personagens, os atores começam a mostrar que são muito bons, multi facetados. Afinal, entre um arco de evolução e outro, há muito humor, que fora adotado de vez como tom principal da série, ou pelo menos o fio condutor.

O episódio 4 dessa segunda temporada é o melhor exemplo de como a série melhorou absurdamente e consegue tratar de assuntos importantes mesclando fantasia, galhofa/doideira/bizarrice e humor. Tentando dar poucos spoilers, nesse episódio as Lendas viajam para uma época pré Guerra Civil dos EUA, onde o racismo e a escravidão está chegando a limites extremos e trabalha muito bem essa ideia. Junte a isso zumbis e criação/fortalecimento de laços entre os personagens, e consiga um dos melhores episódios da série. Parece improvável, mas é real.

A terceira temporada mantém essa pegada de referências/humor/evolução e acrescenta uma dose extra de galhofa. César (de Roma), Vikings, Piratas, um ursinho de pelúcia gigante e a participação recorrente de John Constantine ajudando a equipe a enfrentar o grande vilão da temporada, um demônio.

Episódio da terceira temporada inspirado em E.T.

Destaque para um outro episódio memorável onde há a participação do ator John Noble (episódio o qual é intitulado Guest Starring John Noble), reprisando seu papel em O Senhor dos Anéis. No mesmo episódio, também vemos um jovem Barack Obama em uma ótima e pontual participação.

A quarta temporada, não começa tão bem. A saída encontrada para derrotar o demônio na temporada anterior e todo desenrolar desse arco, acabou deixando consequências na história que levaram a ‘efetivação’ de Constantine como membro da equipe. Com isso, a série assumiu ares sobrenaturais. Isso pode agradar boa parte do público, mas meio que descaracterizou a série.

Além do mais, ao mesmo tempo em que assumiu um tom mais ‘sombrio’ com essa vibe ‘Supernatural’ e até mesmo um pouco ‘Liga da Justiça Sombria’, elementos cada vez mais fantasiosos ganharam mais espaço. Unicórnio, Fada Madrinha, Lobisomem, Bruxas, dragões e até bonecos possuídos passam a fazer parte da história.

No começo, fica um pouco difícil continuar acompanhando, uma vez que ficou muito diferente do que era antes. Mas aos poucos a série vai acertando o tom e se acha novamente. As referências continuam fazendo a alegria dos caçadores de easter eggs e amantes de cultura, vide o título do episódio 11 ‘Seánce e sensibilty’, onde rola uma sessão espírita (seánce em inglês) e a trama gira em torno de eventos que envolvem Jane Austen, autora de diversos livros famosos na literatura inglesa, entre eles, Razão e Sensibilidade (Sense e sensibility em inglês).

A formação da equipe na temporada 4

No meio do caminho, a série se reencontra e até mesmo todo o nonsense e o que parecia ser uma perda de foco e rumo no início da temporada passam a fazer sentido e se encaixam na essência da série. Mais um vez conseguimos enxergar evolução na trama e desenvolvimento dos personagens.

Nesse quesito, arrisco dizer até que essa é a série do Arrowverse que melhor desenvolve seus personagens ao longo das temporadas (desconsiderando Raio Negro, que faz isso brilhantemente, mas não estava no mesmo mundo das outras séries até a Crise).

É muito interessante ver como eles eram quando a série começou, onde chegaram e como o fizeram. É claro, poucos que estavam no episódio piloto estão ainda ao final da quarta temporada (o máximo que está disponível na Netflix no momento em que esse texto é escrito). Bem como vários outros entraram ao longo da série.

Ainda assim, e talvez justamente por isso, o crescimento de todos é notado com clareza. Talvez o fato de os personagens estarem em constante rotatividade, não os deixa desgastar ou ficar sem sentido. E os que permanecem, ganham mais tempo e experiências para crescer.

Legends of Tomorrow pode não ser uma série recomendada para qualquer espectador. Ela exige uma visão artística mais apurada e paciência. Na verdade, eu diria que ela requer que o espectador abrace sua loucura. Uma vez que você a entende como arte e entretenimento despreocupado, você consegue apreciar a obra em seu todo.

Mulheres em destaque e posição de liderança, negrxs, muçulmana, casais multirraciais e homo afetivos. Representação bem contextualizada e sensível.

Além disso, o claro viés progressista da série pode afastar aqueles que não estão prontos para ver questões sociais como representatividade na sua série de heróis. Talvez essa seja a série mais diversa em termos de etnias e gênero nesse segmento (super-heróis) e provavelmente por isso tem tido audiência baixa (boicote) mas ainda se mantém, pois quem precisa e gosta de representatividade a abraça.

Mas mesmo se você não se encaixa nesse grupo, dê uma chance para ela e verá que vale muito a pena. Eu dei essa chance e fico feliz que tenha feito isso. Estou tendo ótimos momentos de entretenimento, pegando altas referências, rindo bastante e até mesmo aprendendo história.

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