De vez em quando compro umas HQs nessas mega promoções malucas. Aliás, normalmente só compro HQs quando estão com pelo menos 40% de desconto. Sou proletário e o preço de capa das HQs são acima do meu poder aquisitivo. E numas dessas acabo pegando umas coisas desconhecidas quando ficam com valor muito bom (leia-se justo pra mim).
E foi assim que conheci Nimona. Peguei totalmente despretensiosamente, tendo sido convencido pelas boas avaliações (além de que o valor estava bem justo para a relação custo/benefício). E que grata surpresa! Uma história gostosa de ler, divertida e incomum.
Pra começar, a história tem como protagonistas ‘vilões’. Em segundo lugar, ela se passa em um ambiente medieval, repleto de seres mágicos/fantasiosos comuns a estas histórias, mas ao mesmo tempo tem muita tecnologia avançada e poderia também se encaixar no gênero sci-fi. Magia e ciência vivem harmoniosamente no mesmo mundo.

Nimona é uma jovem metamorfa que é fã do grande vilão Lorde Ballister Coração-Negro. Um dia, do nada, ela aparece na porta de seu ídolo e se apresenta como sendo enviada pela Agência para ser sua nova comparsa. A princípio, o vilão diz que não precisa de uma comparsa, especialmente uma criança. Ainda mais quando percebe que sua história está muito mal contada. Mas quando Nimona mostra que pode se transformar em praticamente qualquer coisa, Coração-Negro percebe que ela pode ser uma ‘ferramenta’ bem útil para seus planos.
Acontece, que este vilão não é exatamente um vilão clássico, assim como nada nessa história se revelaria ser. Tudo que ele quer é que o reino fique livre de qualquer mal. Seu arquirrival é o honrado Sir Ambrosius Ouropelvis, um cavaleiro que defende os interesses da Instituição, e que outrora foi seu melhor amigo e o venceu em um duelo de forma questionável (do seu ponto de vista) e no qual perdeu um de seus braços. Hoje, nosso vilão protagonista usa um braço biônico.
Ao longo de alguns capítulos que, a princípio, parecem muitos, dado o número de páginas e quantidade de quadrinhos/falas por página, mas que acabam passando bem rápido e de forma fluída, temos muita ação mesclada com profundidade dos personagens.
Por exemplo, Nimona procurou Coração-Negro para ser seu ‘tutor’ pois o admirava como o maior vilão do reino. Acontece que ele tem um código de conduta, ele não é ‘só mau’. E isso é bastante frustrante para a garota que só quer meter o loco e matar, destruir coisas.
É então que entramos em algo que tenho curtido muito há uns bons anos (desde Lost, na verdade): vilões que não são só ruins e heróis que não são assim tão bonzinhos. Todos são vários tons de cinza e cada um carrega suas próprias motivações que fazem de si seres completos e com camadas. Nisso, Nimona dá um show. E tem um roteiro muito bem costurado e redondinho.

Quando conhecemos os verdadeiros poderes de Nimona, vemos que ela é, na verdade, monstruosa e tão poderosa, que é praticamente invencível. Mas também é uma menina. Então, quem já está acostumado com esse tipo de história, percebe uma crítica da autora à sagas como a da Fênix Negra, por exemplo, que reciclam o clichê de uma mulher com poderes terríveis que deve ser derrotada a todo custo, para que não destrua a todos nós. Em Nimona, vemos o melhor final possível: liberdade para escolher seu próprio destino.
A dedicatória da autora (“Para todas as garotas monstro“) sugere afeto pelas garotas que podem se ver em Nimona: alegres e perigosas, talvez um pouco monstruosas em dias ruins, mas sempre as arquitetas de seus próprios destinos.
Saindo um pouco da história e entrando em aspectos mais técnicos, é impressionante como a autora (que também desenha a história) consegue colocar tanta coisa em desenhos tão (aparentemente) simples. São detalhes nos cenários, expressões faciais e corporais nos personagens e cenas de ação com muito movimento que fazem a HQ ser muito bem feita ao mesmo tempo que parece simples até demais.
Não por acaso esta HQ foi indicada a vários prêmios, inclusive tendo vencido o Eisner de 2016 na categoria Melhor Graphic Novel–Reimpressão. Noelle Stevenson, a autora, já se provou muito talentosa com outra HQ (que preciso ler!) chamada Lumberjanes (também premiada) e é a responsável pela animação She-Ra e as Princesas do Poder da Netflix (a qual ainda escreverei a respeito quando terminar de assistir, mas desde já, recomendo fortemente).
Quer uma história surpreendente, divertida e inspiradora? Nimona é uma excelente pedida. Vale cada centavo do que custa. Inclusive, se quiser comprar, pode clicar aqui ou na imagem logo abaixo e ajudar o blog a crescer cada vez mais.