Pegue o conceito de relacionamento abusivo e eleve ao máximo. Conte a história de uma relação nesse nível através de uma narrativa que mescla elementos de fantasia, sci-fi, momentos cômicos e, claro, bastante drama. Assim é Made for Love.
A série é original da HBO Max e é estrelada por Cristin Milioti (a mãe em How I Met your Mother [e não me venha reclamar de spoilers!]). Ela dá vida a Hazel Green, esposa de Byron Gogol (Billy Magnussen), magnata do ramo de tecnologia.
Hazel e Billy vivem em uma casa chamada de Hub, que mais parece uma mistura de castelo e prisão futurista, que fica no meio do nada e longe de todos os olhares curiosos.
Byron é um homem cheio de traumas de infância que levam a manias esquisitas, fazendo com que ele seja um total inapto social. Ele é extremamente inteligente para muitas coisas, mas um incompetente quando se trata de relacionamentos em qualquer nível. Ele precisa estar sempre no controle de tudo, por isso se isolou do mundo vivendo em uma bolha que ele mesmo criou para não precisar sair dali pra abusadamente nada.

Por alguma razão, ele se apaixonou por Hazel e já no primeiro encontro a propôs em casamento. Impressionada com a inteligência, beleza e recursos dele, ela acaba aceitando. Até porque, sua vida não é lá uma maravilha. Conhecer Byron foi um combo que parecia que a levaria à uma vida perfeita.
Acontece que ela passa 10 anos literalmente presa dentro do Hub. Byron a mantém sob vigilância total e controla tudo que ela faz, desde as horas de sono à alimentação passando até pelos orgasmos. Da forma doentia que vê as coisas, ele está proporcionado a melhor vida possível a Hazel, a privando das “imperfeições” do mundo lá fora.
Esse controle extrapola qualquer limite imaginável quando ele implanta, sem o conhecimento e permissão dela, um chip bilionário em sua cabeça que o permitirá ver e ouvir tudo que ela também estiver. Esse é o projeto que ele chama de Made for Love.
)
Na concepção distorcida de Byron, essa é a conexão definitiva que todos os casais procuram e precisam. Para ele, isso acabará com a falta de comunicação entre aqueles que se amam. Ele realmente acredita estar fazendo um bem revolucionário para a humanidade.
E a partir daí a história se desenvolve abrindo espaço para diversas discussões, em especial sobre ética e abuso. Todos os personagens acrescentam muito e têm camadas que nos levam à reflexões. Nem mesmo Hazel é uma protagonista que apenas sofre. Ela tem suas falhas. Seu pai, Hebert (Ray Romano), é outro que a cada cena mostra uma nuance que nos faz mudar de ideia sobre ele.
Enquanto a história vai se desenrolando, o tom de humor ácido e sombrio, diverte e toca ao mesmo tempo e com a mesma intensidade. Desde essa relação doentia entre Hazel e Byron, até mesmo ao uso da tecnologia para ‘curar’ os males do mundo, passando pela hipocrisia moral e sexual da nossa sociedade. Tudo isso sem descambar muito para nenhum gênero, fluindo entre todos os já citados humor/drama/sci-fi/fantasia.

Cristin Milioti prova que é uma baita atriz, extremamente versátil. Seu timing de comédia está cada vez mais afiado, mas seu talento fica evidente mesmo quando vemos que ela dá conta de toda carga dramática a que sua personagem é submetida. Fora que é extremamente expressiva e carismática. Quem já assistiu Palm Springs sabe do que estou falando (e quem não assistiu, deveria), mas acho que aqui ela se supera.
A série tem apenas 8 episódios, por enquanto. Todos em torno de 25 a 30 minutos. Mas tudo é tão intenso, insano e bem desenvolvido, que parece que é bem mais que isso. Muita coisa acontece e nada fica corrido demais ou sem sentido.
Made for Love é uma série surpreendente e essencial para todos, em especial para quem vive ou já viveu algum tipo de relacionamento abusivo. E mais: pode abrir os olhos para aqueles que não sabem que estão vivendo um. Apesar de usar elementos fantasiosos para contar a história, todas as metáforas são bem reais.